7 de nov. de 2009

Flávio Braga e os aliens


Nós, os alienígenas
Arte e Cultura
Flávio Braga   
Sex, 23 de outubro de 2009 14:27

Flávio Braga
Flávio Braga
Distrito 9, ficção futurista sul-africana, imagina uma favela formada por alienígenas vítimas de uma avaria em sua nave. Capturados pelas forças do Estado são detidos num gueto, sob a sombra do imenso disco "estacionado" a certa altura do solo.

A idéia é engenhosa porque inverte a tradicional ameaça que serve de argumento a tais enredos. Os ameaçados são os alienígenas, que chegam a este planeta violento e injusto. A estética também é original: fusão de vários gêneros, do falso documentário ao chamado "favela movie", rótulo contemporâneo para filmes ambientados entre excluídos sociais.
O desenvolvimento no formato de filme de ação, com gangues armadas e um vilão militar sanguinário, encobre uma metáfora interessante: a do pesadelo da queda na escala social.
Aqui é necessária sinopse sucinta: Wikus Van Der Merwe, um protegido da autoridade responsável pela segurança, casado com a filha deste, a lembrar certas figuras do senado brasileiro, apesar de totalmente inapto, é indicado para negociar com os alienígenas. A nave está lá ali vinte anos e a região entrou no mapa do desenvolvimento urbano, obrigando à remoção da favela.  Eles seriam levados para um verdadeiro campo de concentração, na periferia de Johanesburgo. Wikus, cercado de soldados ameaçadores, vai de porta em porta levando a notificação de expulsão. Num dos barracos, ele encontra um cientista alienígena que prepara o combustível necessário para que a nave volte ao seu planeta. O contato com o tal fluído provoca o inesperado: Wikus entra num processo de lenta mutação para transformar-se num deles. O pedido de ajuda ao seu antigo benfeitor e ao Estado gera apenas a idéia de que ele poderá servir para experimentos de pesquisa genética e o seu corpo pode a valer milhões. Morto e esquartejado, é claro. Esposa, família, amigos, autoridades, passam a vê-lo como um alienígena, um excluído, que é indesejável vivo, enfim. Há outros detalhes interessantes, como a luta paralela entre os traficantes de comida e armas, aglutinadas em gangues de negros e os militares corruptos e sanguinários, adeptos da guerra tecnológica. Mas o resumo é claro: não pertencer à classe dominante é um problema bem próximo ao de nascer em outro planeta.
Flávio Braga é escritor