27 de mar. de 2009

Juventude - filme de Domingos de Oliveira


O filme "Juventude", do diretor Domingos de Oliveira, que levou quatro Kikitos da mostra competitiva de longas metragens do 36º Festival de Cinema de Gramado - Melhor Diretor e Melhor Roteiro (Domingos Oliveira), Melhor Montagem (Natara Ney) e Prêmio de Qualidade Artística (para os Atores Aderbal Freire Filho, Domingos Oliveira e Paulo José), sensibilizou a platéia no dia de sua exibição. Três amigos de infância entre sessenta e setenta anos se reúnem na casa de um deles para um final de semana onde o mote é recordar, reviver e confessar.



26 de mar. de 2009

Araras versáteis

foto aqui


Araras versáteis. Prato de anêmonas.

O efebo passou entre as meninas trêfegas.

O rombudo bastão luzia na mornura das calças e do dia.

Ela abriu as coxas de esmalte, louça e umedecida laca

E vergastou a cona com minúsculo açoite.

O moço ajoelhou-se esfuçando-lhe os meios

E uma língua de agulha, de fogo, de molusco

Empapou-se de mel nos refolhos robustos.

Ela gritava um êxtase de gosmas e de lírios

Quando no instante alguém

Numa manobra ágil de jovem marinheiro

Arrancou do efebo as luzidias calças

Suspendeu-lhe o traseiro e aaaaaiiiii…

E gozaram os três entre os pios dos pássaros

Das araras versáteis e das meninas trêfegas.

Hilda Hilst

  via Obscured by Clouds

25 de mar. de 2009

O clássico e as revisões

E aí, Peperi? vai encarar?

*
*
*



Caracol



o caracol

espera a chuva passar

dentro de casa




23 de mar. de 2009

Angeli - sempre perfeito

fonte UOL

Custo Parlamentar

A Transparência Brasil comparou o orçamento do Congresso Nacional
brasileiro com os da Alemanha, Argentina, Canadá, Chile, Espanha,
Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, México e Portugal.
Com um orçamento de R$ 6.068.072.181,00 para 2007, o Congresso
brasileiro (compreendendo Câmara dos Deputados e Senado Federal)
gasta R$ 11.545,04 por minuto. Só é superado pelo dos Estados
Unidos, sendo quase o triplo do orçamento da Assembléia Nacional
francesa. O mandato de cada um dos 513 deputados federais custa R$
6,6 milhões por ano. No Senado, o mandato de cada um de seus 81
integrantes custa quase cinco vezes mais, R$ 33,1 milhões por ano


O Custo do Congresso e das Câmaras Brasileiras por Transparência Brasil rivamoutinho

22 de mar. de 2009

Os economistas também são idiotas


Não pense que só os psicólogos são idiotas. Os economistas também o são.

Os psicólogos são idiotas porque acreditam em Freud, e pretendem construir uma ciência com isso. 

Os economistas são idiotas, porque acreditam... em Marx? Em Keynes? Sim, entre outras coisas, mas, principalmente, porque pretenderam (crime muito mais grave que o outro) matematizar a vida. Pretenderam reduzir a vida a um conjunto de cálculos. Queriam que uma relação de consumo, uma tendência psicológica do consumidor pudesse se converter numa variável numérica. Tudo bem, eu não os culpo, quantos de nós não desejariam que a vida pudesse ser medida à régua? Aliás, o Amor. Aliás, o Encontro. Ah! Se tudo pudesse ser calculado antecipadamente...

Algumas coisas dos economistas, evidentemente, são mais idiotas que as outras. Por exemplo, a economia pensa com o fundamento na escassez. A escassez é a base e, muitas vezes, o conceito da economia. Ora, se você olhar bem profundamente não há escassez, ao contrário, há abundância. O economista deveria fundamentar sua análise na distribuição da riqueza. A dificuldade de retirá-la da natureza é um problema técnico dos engenheiros (agrônomos, de pesca, elétricos, petroquímica ...). O economista deve tratar de superar os egoísmos nacionais e individuais, para distribuir essa riqueza. Agora, pense na dificuldade de mudar esse paradigma – é como se anunciássemos que a Terra gira em torno do Sol.

Outra bobagem dos economistas está nas suas frases de efeito. Cada partido tem sua frase de efeito: “não existe almoço grátis” – dizem os liberais. “A história da sociedade, até nossos dias, não foi senão a história da luta de classes” – dizem os marxistas. Duas bobagens.



Primeiro, existe almoço grátis sim, basta pensar no sopão da Bolsa Família. Quando você atomiza os custos o máximo possível, eles desaparecem. A Bolsa Família não representa nenhum custo para cada um dos brasileiros tomados isoladamente. Pode aparecer no orçamento da União o valor de 17 bilhões, mas esse valor atomizado nos rendimentos de 190 milhões de brasileiros não representa nada, logo, há almoço grátis sim!


Segundo, a luta de classes é uma teoria muito útil para ficar bêbado ou impressionar uma estudante solitária (ou fazer lavagem cerebral em camponeses pobres, como o faz o MST). Tentar reduzir a vida a uma eterna luta de classes é ridículo. A teoria de que os ricos se organizam para produzir leis e “ideologizam” a sociedade segundo seus interesses é muito interessante como fundamento para desobstruir o senso crítico de alunos alienados. Explicar-lhes, por exemplo, que a Polícia Federal sabe quem são os grandes corruptos, mas só pode prender ladrão de galinha é importante para que eles saibam quem dirige o país. Explicar-lhes, por exemplo, que as razões de socorrer banco falido são uma mentira para boi dormir, serve para que esses estudantes compreendam em que sociedade eles vivem.

Mas, afinal, todos faremos escolhas: quem for trabalhar na Polícia Federal – por mais que tenha sensibilidades com os miseráveis e entenda que o sofrimentos “físico” deles pode ser minorados com alguma eficácia das políticas públicas – no final, terá que prender apenas quem lhe mandarem prender. Terá que investigar inimigos políticos do momento, etc. Quem for trabalhar em banco, pode saber da corrupção das taxas e dos lançamentos contábeis, mas não terá muito que fazer, continuará indo para o sindicato reivindicar aumento salarial e participação nos lucros...

 

Eu não lembro mais da teoria marxista, nem da lei dos cossenos, mas acredito que pensar em termos de dominantes e dominados é estagnar a dinâmica social. A realidade é muito mais complexa. Há novos produtos, novas tecnologias, novas teorias, nossos desejos, e nem tudo é produzido na Abin.

 

21 de mar. de 2009

Aniversário: Fernando Pessoa por Paulo Autran


Ouça 

Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)


No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais       copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa, 
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...


15/10/1929

Aula de Mestre

AULA DE MESTRE AULA DE MESTRE senilidades reflexões sobre o Brasil

19 de mar. de 2009

O MST quase não fala na mídia dos bacanas


Mendes: latifundiário e defensor da elite

17/03/2009

Em entrevista concedida à revista Época, o integrante da direção nacional do MST, João Pedro Stedile, nega que o movimento receba dinheiro público. Ele afirma que usar dinheiro público seria “o fim” do MST. Stedile critica o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, ao afirmar que ele é latifundiário, defende banqueiros corruptos e também possui sua própria ONG. 

O presidente do STF, Gilmar Mendes, afirmou no mês passado que o governo federal não pode repassar dinheiro público ao MST. O dinheiro a que ele se refere é repassado a ONGs. Afinal, o MST recebe ou não dinheiro de entidades como Anca, Concrab, Iterra etc?

As entidades citadas estão devidamente habilitadas nos órgãos públicos e são fiscalizadas com rigor. Desenvolvem projetos de assistência técnica, alfabetização de adultos, capacitação, educação e saúde em assentamentos rurais. Isso é feito por centenas de entidades em todo o país, sendo que algumas delas recebem verbas polpudas. Isso acontece por culpa do governo neoliberal do Fernando Henrique, que implementou a substuição do Estado por ONGs. O MST sempre defendeu que direitos como educação, saúde e assistência técnica rural têm que ser implementados pelo Estado, para garantir a sua universalização. O engraçado é que os neoliberais, como o senhor Gilmar Mendes, desmontaram o Estado e agora reclamam das ONGs. Até ele (Mendes) montou sua própria ONG para dar aulas de direito. Não seria melhor multiplicar faculdades públicas?

Como o MST banca os custos de suas invasões e protestos?

As lutas dos trabalhadores só acontecem porque há problemas sociais e direitos negados. Então, parcelas mais conscientes se organizam, mobilizam suas forças e lutam. Nossa luta é fruto dessa consciência e, evidentemente, recebemos solidariedade dos trabalhadores, dos estudantes e professores, das igrejas e da sociedade brasileira. Existimos há 25 anos graças ao apoio político da sociedade brasileira e internacional e somos gratos pelas muitas homenagens recebidas. Nunca usamos um centavo de dinheiro público para fazer ocupações. Seria o fim de qualquer movimento. Isso é um absurdo e fere a inteligência do povo. Imagine que amanhã vão dizer que os sindicatos são financiados pelo dinheiro público para fazer greves.

Caso os repasses do governo sejam encerrados, em que medida isso poderia afetar o MST?

Em nada afetaria o MST. Apenas achamos engraçado como eles se preocupam com ONGs que atuam na reforma ágraria. Essa é a questão. Na verdade, o senhor (Gilmar) Mendes está defendendo seus interesses como latifundiário e os interesses da sua classe. Não quer reforma agrária nem quer ver a terra dividida. Muito menos lá no Mato Grosso, onde proibiu até pescaria em sua fazenda. Ele faz pose de moralista e não explica por que sua ONG recebe dinheiro público. Por quê? Por que não investiga o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, entidade mantida por proprietários rurais), administrado pelos fazendeiros, que recebeu R$ 1 bilhão de verba pública? Há processos no Tribunal de Contas da União de dinheiro do Senar apropriado para enriquecimento pessoal de fazendeiros. Por que não pede investigação da ONG Alfabetização Solidária (ONG voltada para projetos de alfabetização, iniciada pela antropóloga Ruth Cardoso em 1997), que recebeu R$ 330 milhões para fazer alfabetização de adultos? Quantos parlamentares respondem por processos de improbidade? Mais uma pergunta: algum militante do MST ficou rico com dinheiro público? A Policia Federal sabe muito bem quem desvia dinheiro público no Brasil.

Na sua visão, em que medida as invasões de propriedades rurais podem ser consideradas legítimas?

Há juristas, como o ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça Luiz Vicente Cernicchiaro, que expôs em acórdão do tribunal que ocupação massiva para pressionar pela reforma agrária não só não é crime, mas um direito do povo de lutar. Portanto, não é questão de lei, mas questão de classe. As ocupações de terra são uma forma de o povo organizado pressionar o governo a fazer reforma agrária. A solução é simples: basta aplicar a Constituição e acelerar a reforma agrária, que acabariam as ocupações. Agora, todas as milhares de famílias já assentadas pela reforma agrária no Brasil tiveram que ocupar terra para conquistá-las. A culpa não é nossa, mas da omissão do Estado brasileiro. Claro que o senhor Gilmar Mendes deve também ser contra as greves, quilombolas, povos indigenas, ou seja, pobres em geral. No entanto, é a favor dos militares que implantaram uma ditadura militar, de banqueiros corruptos. Cada um defende a classe a que pertence.

A Advocacia Geral da União procura meios para voltar a aplicar uma medida que inibe invasões de terra. A medida, usada no governo Fernando Henrique, diz que propriedades invadidas ficam fora da reforma agrária por dois anos. Se essa regra voltar a valer, o que o MST pretende fazer?

As ocupações de terra são uma forma histórica de os pobres do campo brasileiro lutarem - não foi o MST que inventou. Elas existem desde 1850, quando a Lei de Terras institucionalizou o latifúndio e a concentração da propriedade. A luta pela reforma agrária vai existir enquanto tivermos na sociedade brasileira a contradição entre 30 mil fazendeiros e 4 milhões de famílias sem-terra e 11 milhões de familias que estão em programas assistenciais do governo. Menos de 1% dos proprietários controla 46% de todas as terras no Brasil. As nossas mobilizações e ocupações vão continuar. A sociedade brasileira precisa discutir como enfrentar a crise econômica que está aí. Precisamos discutir como produzir alimentos sem agrotóxicos, como ter uma agricultura sustentável, como preservar a terra, a água e a biodiversidade, que são bens da natureza, repartidas entre todos os brasileiros, e não apenas entre fazendeiros e empresários. Esse é o debate. O senhor Gilmar Mendes assumiu convictamente o papel de líder da direita no Brasil e, por isso, o chamamos de Berlusconi verde-amarelo (alusão ao primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi), embora ele seja mais parecido com o (Benito) Mussolini. 

(Entrevista publicada originalmente na revista Época, edição 565 - 14/03/2009)

Veja a Fonte

18 de mar. de 2009

Clô para os íntimos






fonte: O Povo

Assassinos do Estado

Em todas as sociedades e em todas as épocas, o Estado manteve homens, geralmente arruinados e de espírito muito endurecido, para servirem de "sanitaristas" – assassinos que limpam a sociedade de indivíduos indesejados. Teoricamente, serviriam pra manter a ordem hierárquica, através do exemplo inequívoco, mas sempre eram usados para eliminar inimigos políticos ou para punir os crimes do pudor. Não se pense, entretanto, que eram (ou são) apenas pobres miseráveis que não possuem nada na vida, além do desejo de vingança e uma culpa perdoada. Algumas vezes, se encontram entre eles indivíduos inteligentes, geralmente da área médica, que, presos por um crime (diploma falso, um outro assassínio?), são obrigados a matar os pacientes, de modo que a sociedade perceba apenas um infortúnio.

Crimes do pudor, crimes políticos, revolta, há coisas na sociedade que não são visíveis.

Há soluções de justiça que também não são visíveis. A justiça "formal" (acadêmica, legislativa) corresponde a uma parte bem pouco significante da aplicação prática da justiça.

Eu não entendo de nenhuma das duas: não saberia dizer, por exemplo, se a justiça que destituiu um governador eleito é "formal" ou "de exceção", ou seja, se o governador foi condenado por um crime eleitoral ou um crime "invisível".

Isso talvez soe um tanto paranóico, mas muita gente tem orgulho de saber e de participar desse universo. Sentem-se como integrando o grupo dirigente...

Uma sociedade fundada na mentira e na vergonha precisa do invisível.

Entretanto, vivemos uma época em que o invisível está se tornando visível, em todos os sentidos.

14 de mar. de 2009

A cigana leu minha mão


 

Eu trabalhava num pequeno comércio comprado por meu pai. Ela chegou com um bando de mulheres: mãe, filhas, tias, acho. Primeiro mandou a filha mais nova pedir bombom. A menina chegou mais como quem oferece. Jamais passaria pela minha cabeça que a mãe estava oferecendo a filha em troca de comida. (se minha leitura das putarias do mundo ainda é deficiente, imagine naquela época). Eu só via gente pobre, sem comida, que vivia perambulando pelas ruas. A mãe, percebendo minha ingenuidade (grande parte do poder mediúnico dessa gente não passa de discernimento), pediu para ler minha mão. Eu achei aquilo curioso e – investigador psíquico de primeira – resolvi testar a quiromante. Ela abriu minha mão e, com um breve passar de vista, olhou-me espantada como quem vê o próprio diabo. Eu nunca esqueci a expressão de espanto daquela mulher, assim como nunca entendi claramente o que a fez se espantar. Ela continuou sua narrativa, obviamente mentindo, (até eu percebi), inventando alguns problemas materiais e algumas qualidades psicológicas, tudo para ocultar o que havia visto. Eu não tinha como tentar descobrir alguma coisa. Paguei, e ela foi embora. Agora, fico pensando: o que ela terá visto? o Diabo? minha verdadeira face? meu fracasso? ou então, dada sua natureza pervertida, ficou envergonhada de ver um anjo? Se eu fosse um otimista ou um megalomaníaco optaria pela última alternativa. Mas eu não sou nada santo, conheço (um pouco) minha ira, meu rancor, minha misoginia, para pretender estar entre os espíritos puros.

Que a cigana e sua filha sigam em paz, que eu já alcancei na minha desejada senilidade.

Carnaval Venise

carnaval venise máscaras
Carnaval Venise                                                                                                                                                

13 de mar. de 2009

11 de mar. de 2009

7 de mar. de 2009

Eco, eco

Eu vi um louco na rua Grande. Ele era sujo e maltrapilho. Atendia um celular de brinquedo e orgulhava-se que o vissem telefonar. 
Achei a imagem muito peculiar dos tempos modernos: um sujeito destruído e a tecnologia do invisível.
Chamo de tecnologia do invisível a esse monte de parafernália que utiliza alguma forma de comunicação sem ligação física. O celular é um exemplo. A voz é codificada num aparelho e transmitida por ondas através do ar até um outro.
Só que ninguém se maravilha que o invisível seja material.
Eu acho incrível que ondas eletromagnéticas possam (existir?) transmitir a voz e a imagem de coisas reais. Talvez eu seja tão filósofo quanto as crianças que se encantam com tudo. 
Mas o louco da rua Grande lembrou-me a mim mesmo, assim redundante, conversando comigo mesmo, ouvindo meu próprio eco.
Lembrou  que eu também sou louco, que articulo palavras, mas estou sozinho.
E que sozinho não é um bom lugar.
Não é digno do Pai.
O louco, meu irmão, precisa que o vejam falar ao celular; precisa que o entendam são, precisa se completar no amor do outro.
Eu não reclamo nem mesmo a companhia da vaidade - essa doença tão saudável... 


Escrevo para o nada, como um mendigo de luxo.






5 de mar. de 2009

Meu boné de turista




Reclamam do meu boné - o esconderijo de minha timidez - com o qual me protejo da chuva, ou do sol, quando o há.
Fui à UniCeuma ontem e, logo na entrada, deparei com um busto  de Santos Dumont.
Com seu chapéu de aviador - o esconderijo de sua timidez ou o seu rabo de pavão?
De qualquer forma, foi bom descobrir que a primeira Instituição de Ensino Superior privada do Maranhão não se envergonha de cultuar um suicida.
Foi bom descobrir que o Ceuma não abriga apenas os bem dotados filhos da elite maranhense ou as suas irmãs de porcelanas. Abriga também os que se aventuraram por caminhos tenebrosos, embora com o espírito de superação...
Deve ter sido por isso que me senti em casa: gosto do gosto por chapéus do Santos.
Além do mais, a idéia de ter um busto à entrada de uma Universidade, mesmo depois de morto, não soa desagradável ao meu rabo de pavão.





2 de mar. de 2009

Eduardo Giannetti e as Citações

Prof. Giannetti  lançou um livro de citações - não se pode dizer que "escreveu" nada, já que só usou o teclado para dar Ctrl C.
Embora ele o justifique com um sofisma elegante e erudito - já que ele mesmo se tornou um erudito (no sentido negativo da fragmentação) - a obra não passa de um livro de citações.
Prof. Giannetti não consegui produzir uma teoria própria (embora o deseje profundamente), porque lhe faltam coragem e liberdade. Prefere manter o título preguiçoso de intelectual respeitável (com todos os privilégios que lhe oferece o sistema de castas do Brasil) - (
Morra de inveja, esbraveja meu inconsciente), a se ariscar pelo mundo temerário das especulações filosóficas ( trilha que nos deu o solitário, suplicante e equivocado Nietzsche...).
Prof. Giannetti está certo do ponto de vista da saúde e da saída, mas a humanidade perdeu uma boa oprotunidade de empurrar o trem para adiante...


Na Saraiva o preço tá bacana!




Soneto Erótico

Soneto localizado em um caderno onde poemas de Bocage e de Pedro José Constâncio estavam misturados, não tendo se chegado em nenhuma conclusão definitiva sobre a autoria do mesmo.


Quando no estado natural vivia

Metida pelo mato a espécie humana,

Ai da gentil menina desumana,

Que à força a greta virginal abria!

Entrou o estado social um dia;

Manda a lei que o irmão não foda a mana,

É crime até chuchar uma sacana,

E pesa a excomunhão na sodomia:

Quanto, lascivos cães, sois mais ditosos!

Se na igreja gostais de uma cachorra,

Lá mesmo, ante o altar, fodeis gostosos:

Enquanto a linda moça, feita zorra,

Voltando a custo os olhos voluptuosos,

Põe no altar a vista, a idéia em porra.


Fonte: www.dominiopublico.gov.br


1 de mar. de 2009

A Cópula de Bandeira

A Cópula
Manuel Bandeira



Depois de lhe beijar meticulosamente
o cu, que é uma pimenta, a boceta, que é um doce,
o moço exibe à moça a bagagem que trouxe:
culhões e membro, um membro enorme tungescente.

Ela toma-o na boa e morde-o. Incontinente.
Não pode ele conter-se e, de um jacto, esporrou-se.
Não desarmou porém. Antes, mais rijo, alteou-se
E fodeu-a. Ela geme, ela peida, ela sente

Que vai morrer: - 'Eu morro! Ai, não queres que eu morra?'
grita para o rapaz que aceso como o diabo,
arde em cio e tesão na amorosa gangorra

E titilando-a nos mamilos e no rabo
(que depois irá ter sua ração de porra),
lhe enfia cona a dentro o mangalho até o cabo.