Em todas as sociedades e em todas as épocas, o Estado manteve homens, geralmente arruinados e de espírito muito endurecido, para servirem de "sanitaristas" – assassinos que limpam a sociedade de indivíduos indesejados. Teoricamente, serviriam pra manter a ordem hierárquica, através do exemplo inequívoco, mas sempre eram usados para eliminar inimigos políticos ou para punir os crimes do pudor. Não se pense, entretanto, que eram (ou são) apenas pobres miseráveis que não possuem nada na vida, além do desejo de vingança e uma culpa perdoada. Algumas vezes, se encontram entre eles indivíduos inteligentes, geralmente da área médica, que, presos por um crime (diploma falso, um outro assassínio?), são obrigados a matar os pacientes, de modo que a sociedade perceba apenas um infortúnio.
Crimes do pudor, crimes políticos, revolta, há coisas na sociedade que não são visíveis.
Há soluções de justiça que também não são visíveis. A justiça "formal" (acadêmica, legislativa) corresponde a uma parte bem pouco significante da aplicação prática da justiça.
Eu não entendo de nenhuma das duas: não saberia dizer, por exemplo, se a justiça que destituiu um governador eleito é "formal" ou "de exceção", ou seja, se o governador foi condenado por um crime eleitoral ou um crime "invisível".
Isso talvez soe um tanto paranóico, mas muita gente tem orgulho de saber e de participar desse universo. Sentem-se como integrando o grupo dirigente...
Uma sociedade fundada na mentira e na vergonha precisa do invisível.
Entretanto, vivemos uma época em que o invisível está se tornando visível, em todos os sentidos.