14 de jul. de 2009

A indústria automobilística é uma merda





Toda indústria tem um componente egoístico e competitivo – que os idiotas se vangloriam de chamar de positivo – mas que não passa de uma grande porcaria. Não se passarão muitos séculos para chamar de idiota os idiotas que teorizam sobre a teoria do mercado e se rejubilam com a identidade subjacente entre egoísmo humano e a necessidade de acumulação da indústria.

A indústria deveria ser repensada. Ela é o mal. Mas este não é um discurso comunista, que fique bem claro. A indústria é o mal, porque estimula a competição e reafirma o egoísmo como valor positivo. E, por conta disso, produz a destruição ambiental, corrompe o sistema eleitoral, vicia o operário na merda diária da alienação pelo tédio. Repensá-la é discutir cada um desses pontos: substituir o egoísmo pela solidariedade; produzir de forma sustentável; produzir sem financiar políticos; formar operários capazes de ler Kafka e não ficar com náusea.

Eu me tornei um operário que lê Kafka: não posso mais repensar nada. Ou me tornei aquele personagem da loja de conveniência de que fala Zeca Baleiro. Além do mais, por não ter vendido a alma, eles não permitirão. Eles farão com o meu nome o que quiserem: dirão que fui comunista e comia as menininhas (coisa que, infelizmente, não é verdade); ou que fui "aquele sujeito arrogante que ultrapassa o cúmulo da inutilidade, durante peripécias ridículas e que acredita estar fazendo algo, assim, de grandessíssima relevância para a sociedade". Agora, só posso regurgitar minha náusea nestas páginas e esperar que alguém as beba como ambrosia...

E, ao final das contas, eu não quero repensar nada. Estou farto de repensamentos, estou numa fase twitter: minha capacidade de reflexão não vai além de 140 caracteres... Eu estou mesmo querendo escrever para sacanear a indústria automobilística.

Se a indústria em geral tem muitos defeitos, a indústria automobilística é uma merda. Ele eleva a enésima potência todos os pontos acima levantados: é egoística e acumulativa (enche de carros as ruas, enche o saco de todo mundo, enche nossa vida de tédio); ela é destruidora (destrói árvores, pavimenta de piche os caminhos, esquenta a cidade, esquenta o mundo com sua poluição e seu consumo de energia); ele é mentirosa (toda propaganda de carro aparece aquela mulher linda, com o cara poderoso, viajando por uma estrada linda, sem nenhum engarrafamento, o que é uma grande mentira - e a deserção da verdade é uma forma de dominação e tirania); ela financia políticos mal-caráter (isso tá tão na cara que resolveram reformular o sistema eleitoral, para botar pra debaixo do tapete o que todo mundo já tá vendo: as leis servem para quem as pode fazer!); ela aliena o operário (ela estimula que os valores da classe trabalhadora sejam churrasco na laje, jogo do Corinthians e sexo "natural" (que inclui as menininhas naturalmente – como diz a Marisa Monte); ela sacaneia o consumidor ( todo ano ela inventa um novo modelo para vender mais e o pobre consumidor vê seu modelo – de apenas um ano de uso – despencar em mais de 40%, além disso o consumidor tem que pagar mais de 30% de impostos só no ato da compra, pagar o IPVA anual, pagar o imposto social dos flanelinhas, pagar o imposto da manutenção...).

Agora me diga: é ou não é uma indústria de merda?

Aqui na minha cidade, um vendedor de carro quase ganha o prêmio Nobel da simpatia. Toda a cidade o ama; toda a sociedade acha o cara o máximo. Um vendedor de carro! Um execrável vendedor de carros! ( eu não entendo, como pode ter tanta gente burra no mundo...).

Esse sujeito elevou tanto a competição que a cidade virou um inferno: a qualquer hora, por qualquer motivo, há engarrafamentos ( a culpa é do Lula também, mas deixa isso prá lá). Então o que faz o prefeito? Lógico! Inteligentíssimo! O prefeito diz que vai aumentar as estradas! Ou seja, vai criar condições para o bonitão vender mais carros... Jamais passará pelas sumidades inteligentíssimas dos engenheiros de trânsito, junto com os inocentes engenheiros civis ( que irão ganhar as concorrências públicas), jamais passará pela cabeça dessas desinteressadas pessoas as alternativas do transporte público melhor, com mais ônibus, ou ônibus de dois andares como em Londres; ou recuperar o transporte por trilhos ( elétrico ou não). O transporte fluvial pelo rio Anil. Ou ciclovias. Ou motovias...

Por que eles não pensam nisso. Porque isso não serve para a merda da indústria automobilística. Porque isso não dá dinheiro...

E o otário do eleitor/consumidor da "nunca mais ilha rebelde" vai pagar o preço.