28 de fev. de 2009

27 de fev. de 2009

A Lolita de Machado



 Menina e moça:
Machado de Assis

(A Ernesto Cibrão)




Está naquela idade inquieta e duvidosa,
Que não é dia claro e é já o alvorecer;
Entreaberto botão, entrefechada rosa,
Um pouco de menina e um pouco de mulher.

Às vezes recatada, outras estouvadinha,
Casa no mesmo gesto a loucura e o pudor;
Tem cousas de criança e modos de mocinha,
Estuda o catecismo e lê versos de amor.

Outras vezes valsando, o seio lhe palpita,
De cansaço talvez, talvez de comoção.
Quando a boca vermelha os lábios abre e agita,
Não sei se pede um beijo ou faz uma oração.

Outras vezes beijando a boneca enfeitada,
Olha furtivamente o primo que sorri;
E se corre parece, à brisa enamorada,
Abrir as asas de um anjo e tranças de uma huri.

Quando a sala atravessa, é raro que não lance
Os olhos para o espelho; e raro que ao deitar
Não leia, um quarto de hora, as folhas de um romance
Em que a dama conjugue o eterno verbo amar.

Tem na alcova em que dorme, e descansa de dia,
A cama da boneca ao pé do toucador;
Quando sonha, repete, em santa companhia,
Os livros do colégio e o nome de um doutor.

Alegra-se em ouvindo os compassos da orquestra;
E quando entra num baile, é já dama do tom;
Compensa-lhe a modista os enfados da mestra;
Tem respeito a Geslin, mas adora a Dazon.

Dos cuidados da vida o mais tristonho e acerbo
Para ela é o estudo, excetuando-se talvez
A lição de sintaxe em que combina o verbo
To love, mas sorrindo ao professor de inglês.

Quantas vezes, porém, fitando o olhar no espaço,
Parece acompanhar uma etérea visão;
Quantas cruzando ao seio o delicado braço
Comprime as pulsações do inquieto coração!

Ah! se nesse momento, alucinado, fores
Cair-lhe aos pés, confiar-lhe uma esperança vã,
Hás de vê-la zombar de teus tristes amores,
Rir da tua aventura e contá-la à mamã.

É que esta criatura, adorável, divina,
Nem se pode explicar, nem se pode entender:
Procura-se a mulher e encontra-se a menina,
Quer-se ver a menina e encontra-se a mulher!

Tá Safo

Safoé

A uma mulher amada

Ditosa que ao teu lado só por ti suspiro!
Quem goza o prazer de te escutar,
quem vê, às vezes, teu doce sorriso.
Nem os deuses felizes o podem igualar.

Sinto um fogo sutil correr de veia em veia
por minha carne, ó suave bem-querida,
e no transporte doce que a minha alma enleia
eu sinto asperamente a voz emudecida.

Uma nuvem confusa me enevoa o olhar.
Não ouço mais. Eu caio num langor supremo;
E pálida e perdida e febril e sem ar,
um frêmito me abala... eu quase morro ... eu tremo.

(de "Clássicos do erotismo, vol. 2")

26 de fev. de 2009

Pai Nosso em aramaico

Imagens da Grandeza do Universo








25 de fev. de 2009

Alfonsina y el mar






Por la blanda arena que lame el mar
su pequeña huella no vuelve más
un sendero solo de pena y silencio llegó
hasta el agua profunda
y un sendero solo de penas nudas llegó
hasta la espuma


Sabe Dios que angustia te acompañó
qué dolores viejos calló tu voz
para recostarte arrullada en el canto
de las caracolas marinas
la canción que canta en el fondo oscuro del mar
la caracola


Te vas Alfonsina con tu soledad
¿qué poemas nuevos fuiste a buscar?
una voz antigua de viento y de sal
te requiebra el alma
y la está llevando
y te vas, hacia allá como en sueños,
dormida Alfonsina, vestida de mar.


Cinco sirenitas te llevarán
por camino de algas y de coral
y fosforescentes caballos marinos harán
una ronda a tu lado.
Y los habitantes del agua van a nadar
pronto a tu lado.


Bájame la lámpara un poco más
déjame que duerma, nodriza en paz
y si llama él no le digas que estoy,
dile que Alfonsina no vuelve.
y si llama él no le digas nunca que estoy,
di que me he ido.


Te vas Alfonsina con tu soledad
¿qué poemas nuevos fuiste a buscar?
una voz antigua de viento y de sal
te requiebra el alma
y la está llevando
y te vas, hacia allá como en sueños,
dormida Alfonsina, vestida de mar
.
_____________________________

24 de fev. de 2009

Chico Xavier e a Mentira Piedosa


Este é um comentário ao artigo publicado no blog Obras Psicografadas, que trata, de forma apenas provocativa (pois não é uma tese de doutorado, pois bem!), de saber se Chico Xavier era uma mentiroso ou um mentiroso genial. 
Minha opinião segue abaixo:


-


Eu não devia me meter mais nessa discussão, mas nunca se deve ser soberbo a ponto de negar o exercício do argumento, mesmo que seja de forma tão superficial como agora.
Além disso, sou teimoso, assim como o Vitor (editor do blog), que não quer admitir que só existem dois caminhos para investigar Chico Xavier (CX): 


1-  Ou ele era um Gênio, e, portanto, tudo que fez foi MENTIRA ou "impostura" - tese, aliás, a que o Vitor se filia, sem admiti-lo. 


2- Ou ele era um sujeito comum (ressalvada a potencialidade mediúnica) e, portanto, tudo que fez era VERDADE, e, então, há sobrevivência, (embora essa comprovação não resolva grande coisa, como tentarei elucidar mais adiante...) 


Quando o Vitor tenta qualificar o Chico de impostor, o faz pensando na primeira hipótese, muito bem. Ele tem toda liberdade intelectual para fazê-lo. 


O que Vitor NÃO PODE, sob o risco de se tornar SIMPLÓRIO, ou cair na superficialidade, é chamar Chico de impostor medíocre


Eu quero argumentar ( ou IMPOR?), aqui, o entendimento de que não se pode chamar de MEDÍOCRE uma pessoa que produziu mais de 400 obras, grande parte das quais com evidente mérito literário - além de continuar a dar trabalho para quantos lhe investiguem a "falsidade" ou a "qualidade psi".


Ora, os romances psicografados por CX são perfeitos do ponto de vista da estrutura narrativa e só os grandes escritores conseguem fazer um romance perfeito. Ou seja, os romances de CX estão no nível de Josué Montelo, por exemplo, e não no nível de Diogo Mainardi, v.g., cuja intelegência brilhante é indiscutível, assim como a mediocridade dos escritos.


Embora eu esteja com preguiça de encompridar o raciocínio, espero que fique evidente para todos que Chico Xavier era um gênio, do ponto de vista da primeira hipótese acima.




Não se trata de classificá-lo apenas como sujeito extraordinário, excepcional, como o fazem os pesquisadores psi. Isso seria reduzi-lo a uma dimensão puramente  acadêmica. 


A dimensão de Chico vai além do científico. Se desejam investigá-lo devem ter claro tudo que ele foi e tudo que ele representa para milhões de pessoas até hoje.


Queria alimentar a discussão do blog do Vitor com esses fundamentos.


Queria deixar registrado, também, minha simpatia pela segunda hipótese (sou um romântico e adoraria que a tese da sobrevivência da alma prevalecesse sobre o nada). Isso influe meu raciocínio? Sem dúvida, mas espero ter sido coerente.


Bem, para finalizar, queria esclarecer que, mesmo que a tese da sobrevivência prevaleça, nada fica resolvido (a fome, o ódio, o egoísmo...).  Apenas tudo fica mais complexo - com uma dimensão a mais para mantermos contato. E nem todos estão preparados para isso.





P.S.
Como sugestão, até mesmo para os leitores do blog do Vitor, informo que existe um excelente material de pesquisa, inclusive com as chamadas mensagens psicografadas de CX, chamado 




que está na 8ªedição e, segundo o desenvolvedor, 


 é uma compilação das obras completas de Allan Kardec e Francisco Cândido Xavier, além de uma versão do Antigo e Novo Testamentos no formato HIPERTEXTO. 
Este livro eletrônico é uma verdadeira biblioteca espírita digital on-line, constituído de uma coleção de livros virtuais inter-relacionados e um Índice Temático Principal — poderosa ferramenta de busca por assuntos, nos mais de mil temas disponíveis para pesquisa.




Até a 6ª semana de gravidez

A menina suicida ou de coisas que eu desconheço

Eu vi uma menina suicida.
Ela se aproximou de mim - estávamos numa piscina - muito timidamente, mas de forma evidente.
Começou a conversar, sem que eu lhe dirigisse a palavra, e contou coisas particulares da sua vida que eu não havia perguntado. Disse que o pai havia abandonado a casa e que tinha apenas dez anos, mas as pessoas pensavam que ela tinha mais, por que tinha os seios grandes.
Havia uma angústia e uma solidão imensas naquele relato estranho.
Os adultos fazem coisa estranhas com as crianças.

Eu penso na renúncia perfeita.
O que é isso? Não é apenas renunciar sua individualidade para acolher o outro ( no caso, a filha abandonada), mas renunciar a individualidade sem jamais reclamar, ou seja, renunciar por Amor. Isso é a renúncia perfeita. A questão é que sempre esperamos uma recompensa futura. Nosso velho gene animal está prenhe de egoísmo. Vencê-lo, como ao muro da vergonha, demanda muitos séculos.
A menina suicida levará para toda a vida essa dor; e o que fará com ela, para o bem ou para o mal, não se pode nunca prever.


22 de fev. de 2009

21 de fev. de 2009

O conhecimento do Amor

Aprendi com Cristo a conhecer o Amor.

Eu pedi conhecimento, e ele me deu Amor.
Acho que ele sabe mais do que eu, o que eu mesmo quero.
Ele olha do alto do monte.
Sua visão superior sabe o que nos é útil.
Ele responde as perguntas que lhe fazemos.
Basta fazer silêncio que o ouviremos.

Ah! como é bom o Amor.

Todo o meu corpo vibra numa cor diferente.
Todas as glândulas do meu corpo são ativadas.
Minha mente é suave, minha consciência enternece.
Eu respiro o Amor por todos os poros.

Ele é indestrutível.
Ele não está vinculado (mais) ao objeto que o despertou.
Ele se espraia além de tudo que seja sua manifestação objetiva: o filho, o pai, a mãe, a esposa, o amigo...
Ele já não é mais Amor filial, Amor maternal, Amor fraternal...
Ele se tornou Amor, sublime, para todos os homens, para todas as coisas.

O Amor alimenta, vivifica, perpetua.
Cristo me deu o Amor:
"quem beber de minha água jamais sentirá sede".
Eu não tenho mais sede.
Eu me sinto pleno, inteiro humano.
Oh! a migalha do Amor de Cristo me tornou homem!
Oh! a migalha do Amor de Cristo me resgatou do animal!
Só uma migalha, pois eu não suportaria mais.
Só uma migalha do Amor de Cristo é a maior das riquezas do mundo.
Oh! suavidade psicológica!
Será isso uma doença?
Amar completamente tudo, como Cristo nos ensinou, será uma doença?
Então, que doença maravilhosa que cura o doente.
Não, a migalha do Amor de Cristo é remédio.
É água que aplaca a sede eternamente...

Giannotti inflaciona a religião em Gaza


O professor José Arthur Giannotti começa seu artigo sobre Gaza ("Estados Terroristas", Folha de S. Paulo, 01/02/09) dizendo que não sabe do assunto que vai escrever. Confessa que não acompanha os detalhes do conflito em Gaza. E então escreve uma página toda. Isso lembra Marilena Chauí que, na crise do PT, quando do "mensalão", fez o "silêncio obsequioso". Foi a época em que falou pelos cotovelos. Todavia, há de se reconhecer que Giannotti tem o mérito de ser sincero. O artigo mostra de fato que ele não sabe do assunto. E o ponto central do seu texto mostra isso. Diz uma verdade, mas que se transforma em erro, pois nada é senão o que meu amigo Richard Rorty apelidava de algo que, no português, poderia ser chamado de "sobre-filosoficação". Ou seja, não se atendo às informações vindas do conflito, puxa pela memória o que mais passa pela cabeça de professor de filosofia, ou seja, que tudo no mundo pode ser reduzido a um conflito de idéias, ideais e ideários. E como o ambiente geográfico é o de Jerusalém, então a filosofia é travestida de religião, eis que a guerra é explicada por meio da guerra de doutrinas religiosas. Bem menos feliz foi Saramago, que reduziu a motivação da Guerra em Gaza às determinações do conceito de Deus judaico (artigo: Gaza). Os israelitas seriam adoradores de um Deus pouco benevolente e, então, por isso, fariam guerra como fazem. Giannotti não chegou a tamanho absurdo, dado que, como professor de filosofia, escapa de usar a digitação de modo tão caolho como Saramago. Todavia, no frigir dos ovos, seu argumento também é de estilo do lusitano. Ou seja: a culpa é dos judeus. E o termo "judeu", no caso, vem em um invólucro pouco aconselhável de ser posto. Giannotti faz uma diferenciação entre o que seria o Estado de Israel se tivesse se desenvolvido como um Estado israelita, e o que ele é hoje, um Estado judeu, segundo ele. Israel teria sido criado por grupos de esquerda, que queriam um Estado laico, mas virou um estado belicista porque se desenvolveu como um estado controlado por fundamentalistas. Esses fundamentalistas ele tende a chamar de "judeus". Tudo isso é culpa, segundo Giannotti, de Israel não ter uma Carta Magna escrita. Israel adota o sistema de regras do convívio, que é conhecido nosso pelo exemplo inglês. O país funciona como a Inglaterra, mas, ainda segundo ele, sem a tradição daquela. Isso teria permitido o Estado se travestir de Estado Religioso. Nesse caso, em vez do homem ocupar a terra, é a terra que se coloca nos pés do homem por direito divino. E eis que isso determina sua loucura bélica. Possuído por Deus, e não sendo israelitas e somente judeus que, enfim, assumiriam o radicalismo dessa condição de deter direitos filtrados pela divindade, os homens e mulheres de Israel estariam motivados ao ataque. Do lado oposto, o Hamas e outros grupos também seriam motivados por religião, e assim o quadro da guerra estaria posto. Uma guerra levada adiante porque as pessoas possuem religião. Eis aí a sobrefilosoficação de Giannotti. Os homens guerreiam porque estão cheio de idéias na cabeça. Estranha conclusão para quem bate no peito dizendo que veio de uma tradição marxista. O texto de Giannotti cria um tremendo incômodo para quem é filósofo. Será que nós, filósofos, só sabemos escrever invocando e evocando filosofia? Será que não conseguimos mesmo nada dizer que não seja inflacionado por idéias e doutrinas? Será que sempre que olhamos o bípede-sem-penas não conseguimos ver nada a não ser cabeças cheias de doutrinas distintas que, sabe-se lá por qual razão, levariam a todos para as trincheiras? Damos importância demais às doutrinas, pois para vários de nós, cujo ganha-pão vem de dar aula de filosofia, a filosofia se torna a coisa mais importante e decisiva do mundo. Creio que nós, filósofos, deveríamos poder fazer melhor. Poderíamos agir antes como filósofos que como professores de filosofia. Poderíamos imaginar as pessoas com menos idéias e ideários organizados na cabeça do que fazemos. Um menino do colégio, em Israel, disse uma frase melhor que a de Giannotti no sentido de melhorar nosso entendimento do conflito em Gaza. Ele explicou as coisas assim para um repórter: "o Hamas não admite a existência do Estado de Israel, e quer acabar com Israel, então Israel precisa acabar com o Hamas antes disso". A frase do garoto é mais condizente com a história que a sobrefilosoficação de Giannotti. Ou seja, desde a fundação do Estado de Israel, houve oposição a tal criação ali naquele lugar. A oposição foi criada porque alguns povos ali localizados se sentiram desalojados e submetidos a uma situação artificial e injusta. Afinal, eles também estavam ali há tempos. Qual a razão daquilo ser dado aos judeus, por um decreto da ONU? Alguns desses grupos deixaram de lado a oposição, logo passaram a determinar que a melhor coisa que poderiam fazer era colocar a vida em função do fim do Estado de Israel. As motivações que alimentaram para agir assim não precisariam de ser religiosas e, de fato, na maioria das vezes, não foram. Da boca para fora até que vieram a evocar a religião e, depois, as mortes geradas pela guerra – ou seja, o ódio que alimenta o ódio. Mas as motivações decorreram do simples modo como a política anda. Ou seja, grupos armados internamente, em função de garantir privilégios de uns sobre os outros, conquistam a capacidade de se colocar na liderança do povo de onde emergiram, criando a idéia do "inimigo externo" e também a idéia de que são eles, e não outros, os patriotas que defendem a população contra tal inimigo. Durante anos isso foi mais facilmente observado do lado dos palestinos que do lado de Israel. Embora isso funcione de modo travestido pela democracia também em Israel. Ou seja, do lado de Israel o que foi feito foi a construção de um estado em moldes ocidentais. Do lado palestino o que se organizou foi uma plêiade de milícias que optaram pelo terrorismo contra Israel. Quando Arafat viu que ele podia, de fato, criar o Estado Palestino, e que ele tinha a hegemonia entre seu povo, ele passou a desistir do conflito bélico. E nem árabes e nem judeus deixaram de ser religiosos por causa disso. Os Estados Unidos tiveram um papel fundamental nisso. E a gestão de Clinton promoveu acordos memoráveis entre os dois lados. A paz no Oriente Médio parecia que havia finalmente chegado. Amigos meus dos dois lados começaram atividades culturais e educacionais conjuntas. A perda de eficácia desses acordos foi sem dúvida nenhuma a política de Bush para com o mundo Árabe. Nenhum analista hoje em dia – nem mesmo os que estiveram com Bush – negam que sua política de invasões e reações indiscriminadas ampliou o terrorismo no mundo. E o fato dele estabelecer uma cruzada contra o mundo "não democrático", querendo encontrar o que foi para Reagan a URSS, o "império do mal", acabou repondo não uma guerra fria, mas uma permanente frente de guerra quente. Ora, sendo Israel interpretado como a ponta de lança americana no mundo árabe, os ataques se reiniciaram. Pois morto Arafat, a briga pelo poder nas milícias palestinas voltaram a disputar poder. Houve então o retrocesso na paz. Primeiro veio o Hizbolah e, agora, o Hamas. A troca de poder no comando do Planeta, fazendo surgir o fenômeno Obama, ao contrário do que poderia parecer, não trouxe a paz. Trouxe mais guerra. Ao menos em um primeiro momento. Pois os grupos palestinos passaram a atacar Israel exatamente para serem notados pelo novo presidente. Pois cada grupo quer ser o representante internacional dos palestinos. Não à toa o líder do Hamas está no Irã, confortável enquanto seus comandados, a partir de quintais de suas próprias casas, provocam Israel fazendo vítimas esporádicas, pelo ataque de foguetes. O Irã se propõe a ser a sede e o interlocutor máximo de todos que vivem segundo a ordem não ocidental. Por sua vez, Israel reage como sempre. Sua reação é sempre desproporcional. E isso tanto faz seu governo ser de esquerda, de direita, de centro, religioso ou não religioso. A reação de Israel é desproporcional por razões simples. O povo Israelense se ocidentalizou. Não há mais vontade de participação em guerras. A juventude tende a querer antes as discotecas que a trincheira. Há um alto padrão de vida em Israel. E ninguém mais quer passar a vida como cidadão-soldado. Ao mesmo tempo, diante dos ataques, ninguém quer ser visto como covarde ou traidor e não apoiar uma ação de resposta. Então, a resposta vem pelo ar, e só depois que o terreno é devastado é que há ação por terra. A ação por terra é feita a partir da idéia da repressão ao terrorismo urbano. Ou seja, é necessário atirar primeiro e perguntar depois, uma vez que o miliciano pode perfeitamente se passar por civil. E inclusive pode ser uma criança ou uma mulher "colaboradora". Essa é uma tática parecida com a que o americano usou no Vietnã, e foi completamente abandonada na invasão do Afeganistão. Pois é uma tática que por princípio compromete quem a faz ao chamado crime de guerra ou mesmo o genocídio. Filosofia? Doutrina? Religião? Não! Nada disso é ponta de lança no conflito de Gaza. As idéias religiosas e filosóficas, nesse caso, são antes arrastadas que motivadoras. A fala de Giannotti ainda ecoa a de Saramago: a culpa é de Deus – o Deus judeu é perverso. Nós filósofos tínhamos obrigação de fazer mais que isso ao querer explicar as coisas. Saramago é perdoável, dado que tropeça em filosofia e sociologia, mas nós não. Exatamente por sermos estudiosos de idéias, ideais e ideários, de estarmos familiarizados com doutrinas, não deveríamos conceder a elas mais forças do que realmente possuem. Deveríamos ler figuras como Marx, Dewey, Veblen e Weber – os que procuraram ensinar aos filósofos que as práticas às vezes comandam o mundo antes que conjuntos organizados de idéias, as doutrinas.
Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo

19 de fev. de 2009

Os meninos do Castelo

João Castelo, prefeito de São Luís, vai financiar em R$ 600.000,00 os clubes de futebol do município.

Eu - algum dia - disse que ele estava errado?

Algum dia, eu falei mal da virilidade ou da utilidade dos esportes?

Acho útil para a saúde da cidade que uma parte do orçamento seja destinada para fortalecer a vitalidade.

Prefiro que o prefeito financie os rapazes do futebol, a vê-lo mandar matar adversários e desafetos.

Prefiro que os rapazes sejam valorizados, a vê-los cair no ódio e na revolta (desejar servir é diferente de ser obrigado a servir).

Meu lema sempre foi:

Transparência nos gastos públicos e nos prazeres privados!


18 de fev. de 2009

Novela da Globo e o mito da beleza física









Grazi Maziferro aprendendo humildade com Ioná Magalhães








Ioná Magalhães aprendendo resignação com Grazi Maziferro








Promotora do Consumo em São Luís

Uma promotora em São Luís autuando uma Rede de Farmácia se impoe diante do gerente:
- Fale baixo.
O pobre do gerente humilhado, nem estava exaltado.

Essa coisa de mulher com pau não é pra mim.
Eu, no máximo, gosto de homem com peito...


17 de fev. de 2009

Conselho para escritores

Billy Collins ( tradução de José Luís Peixoto)

Mesmo que te mantenha a pé toda a noite,
lava as paredes e esfrega o chão
do teu estúdio antes de compores uma sílaba.

Limpa como se o Papa estivesse para vir.
O asseio imaculado é sobrinho da inspiração.

Quanto mais limpares, mais brilhante
será a tua escrita; não hesites, pois em sair
a campo aberto e lavar a face ocultadas
pedras, nem de passar um trapo nos ramos mais altos
das florestas sombrias, pelos ninhos cheios de ovos.

Quando encontrares o caminho de volta para casa
e guardares as esponjas e escovas debaixo do lava-loiça,
contemplarás a luz da aurora,
o altar imaculado da tua secretária
uma superfície limpa no centro de um mundo limpo.

Então, de um pequeno copo, azul reluzente, tira
um lápis amarelo, o mais afiado do bouquet,
e cobre páginas com frases miúdas
como longas filas de formigas devotas,
que te seguiram desde o bosque.

O pecado original do pacotão Obama

O economista húngaro Antal Fekete discorda frontalmente do que chama um cocktail de asneiras keynesianas e monetaristas em voga na elite americana.



Para o economista Antal Fekete o pacote de Obama e as medidas da Fed sofrem todas do mesmo defeito de origemReuters"O pacote Obama vai falhar", dispara o economista húngaro Antal Fekete, de 77 anos, numa entrevista ao Expresso a partir de Acapulco. O programa de emergência americano aprovado este semana no Senado por um voto sofre do mesmo pecado original de anteriores, ainda que as caras tenham mudado e várias alíneas sejam diferentes. Consiste na mesma crença de verter moeda fiduciária na economia sem suporte de valor real, denuncia o professor nascido em Budapeste.Fekete, que é matemático de formação, ironiza com a nova equipa económica e financeira de Obama. "A Sala Oval está refém de uma clique viciada numa mesma mistura de paradigmas keynesianos e monetaristas (da corrente de Milton Friedman)", afirma. Pode parecer um paradoxo, mas este cocktail vive de duas ideias para a função da "mão visível" do Estado: intervenção do braço do Estado no mercado colmatando alegadas "falhas" da procura em tempo de crise e manipulação financeira pelos bancos centrais da taxa de juro.Fekete é um dos sobreviventes da chamada escola económica austríaca nascida em Viena no final do século XIX e que teve como fundador Karl Menger e como seguidores economistas de renome como Ludwig von Mises, o Nobel Friedrich Hayek e o próprio Joseph Schumpeter. A esta corrente sempre provocou alergia esta concepção do Estado intervencionista. Mises tinha uma frase célebre: a primeira obrigação de um economista é a de dizer aos governos o que não podem fazer.Políticas letais na Sala OvalAs convicções dominantes em Washington são duas políticas letais, observa o professor reformado da Memorial University of Newfoundland, no Canadá, onde leccionou desde que saiu da Hungria aquando da invasão soviética de 1956. "A principal raiz das depressões não é o afundamento da procura, como sugeriu Keynes, mas a destruição de capital provocada pela deliberada supressão política das taxas de juro", explica-nos Fekete, que é considerado um dos especialistas da teoria de formação e origem dos juros. Pelo que o problema central não está na procura, no consumo, mas na "destruição de capital" ocorrida ciclicamente durante as "bolhas" e estoiros financeiros, sublinha.Por outro lado, o mito das taxas de juro tendencialmente para zero como medicina curativa - usada, em diversas alturas, quer por Alan Greenspan como por Ben Bernanke que ainda está em exercício na Reserva Federal americana - deriva da ideia que os políticos e banqueiros centrais têm de que podem "gerir" a massa monetária a seu bel-prazer sem que haja um "sustentáculo" com real valor. Fekete recorda que "os japoneses acreditaram nos conselhos dos doutores monetários americanos" quando se viram atirados para a crise dos anos 1990 e sabe-se os resultados (negativos) dessa experiência até hoje. A "lei" de Fekete tem funcionado (ver no final).A prenda estratégica oferecida à ChinaEssa tentação fiduciária agravou-se sobretudo desde o "golpe Nixon" em Agosto de 1971. O presidente americano cortou a relação do dólar com o padrão ouro, seguindo o conselho de Milton Friedman contra a opinião, por exemplo, do Nobel Paul Samuelson que defendia a desvalorização do dólar. O fecho da "janela do ouro" trouxe a euforia de dar impunemente à manivela na impressão da "nota verde". Depois, a espiral de "crédito sintético" não mais parou, recorda o nosso interlocutor que escreveu nos anos 1980 uma série de textos sobre política monetária - 'Os Dez Pilares de uma Moeda e Crédito saudáveis'.O que isso gerou foi uma bebedeira de liquidez assente na ideia de eternamente se ficar a dever refinanciando a dívida sem planos sérios de a pagar alguma vez, acreditando na capacidade política de manter os credores na convicção da bondade do esquema. Sem temer que um dia a corda parta.Entretanto, irónica e paradoxalmente, a liquidez artificial do consumidor americano e do estado despesista yankeenadando em moeda fiduciária provocou o inesperado: a China aproveitou a janela de oportunidade. Foi a prenda estratégica para o boom chinês e a sua enorme liquidez em dólares.Um cenário do gelado ao escaldanteFekete é, por isso, muito crítico das sugestões, nos EUA, de se desenvolver uma política de flexibilização monetária quantitativa (tecnicamente chamada de quantitative easing), de criar recipientes financeiros para o "lixo" do sistema, designados por bad bank, ou de nacionalizar a banca socializando as asneiras. "Além do mais, isso terá efeito zero na economia, e levará à bancarrota do governo americano", diz peremptório.O que poderá ter como consequência um cenário evolutivo que Fekete antecipa: "a economia passar de um período de deflação - em curso - para um de hiperinflação mais tarde". Ou seja passar de um banho gelado para um duche a escaldar. Uma oscilação selvagem que pode surgir de surpresa e para a qual "o mundo não está preparado", diz o professor. E em que os fantasmas de uma economia caótica como a da República de Weimar na Alemanha dos anos 1920 e 1930 vêm à lembrança.A hipótese de um cenário desses foi, recentemente, relembrada por dois analistas londrinos da Morgan Stanley Smith Barney num relatório ambíguo intitulado "Poderá a hiperinflação acontecer de novo?" (29 de Janeiro de 2009) "Obviamente, este é um cenário extremo", dizem Joachim Fels e Spyros Andreopoulos, que o classificam como "um possibilidade distante", mas concluem: "Será avisado não ignorar este risco". Referem que "um evento do tipo cisne negro" relativo a inflação ou mesmo hiperinflação faz sentido em certas condições.Fekete propõe, por isso, o regresso progressivo ao padrão-ouro e ao sistema de taxas de câmbio fixas "que o mundo abandonou tão loucamente em 1931 e depois em 1971". Sugere à China que seja pioneira neste plano alternativo, pois o que ela detém agora "é um pilha de títulos de dívida (americanos), que, no final, podem não valer mais do que o papel impresso em que estão". Basta que o dólar colapse e que o Governo americano seja obrigado a declarar incumprimento. Um cenário "argentino" que muitos já andam a prognosticar. Pelo que a China deveria colocar as barbas de molho - além do mais é hoje em dia o principal fornecedor de ouro do mundo, tendo ultrapassado a África do Sul em 2007, segundo a consultora inglesa GFMS.A "lei" de FeketeHá uma relação perversa entre a manipulação em baixa das taxas de juro pelos bancos centrais e a circulação de capital, diz o matemático Antal Fekete. Apesar de ao cidadão comum endividado parecer que os juros em queda livre lhe vão aliviar a vida, Fekete deduziu uma "lei" que os economistas keynesianos e monetaristas não gostam especialmente: "à medida que a taxa de juro decai, o valor de liquidação da dívida aumenta - em vez de o diminuir, uma taxa de juro em queda aumenta o fardo da dívida". Por isso, Fekete considera a lógica de manipulação de taxas de juro tendencialmente para zero como uma arma "letal". E, a partir do momento "em que o saldo entre o valor de liquidação da dívida e os activos ultrapassa o capital, as firmas tornam-se insolventes. É o que aconteceu aos bancos nos EUA e no Reino Unido. É o que aconteceu à indústria americana do automóvel, por exemplo", conclui.A destruição de valor pode não ser logo óbvia a nível macroeconómico. Revela-se por outros dados chocantes em que a América actual é pródiga.Os números falam por si:- o agregado M3 (indicador da massa monetária total na economia, que a Reserva Federal americana deixou de publicar desde Março de 2006) no final de 2008 estava a crescer 11% ao ano, segundo a Shadowstats.com;- por cada dólar de PIB americano é necessário "imprimir" 6 notas verdes de um dólar (ou seja, o valor real em paridade de poder de compra do actual dólar é 1/6 do seu valor nominal!);- a pirâmide de instrumentos financeiros "derivados", em Junho de 2008 (último dado semestral conhecido), segundo o Banco Internacional de Pagamentos totalizava 683 biliões de dólares (cerca de 531000 mil milhões de euros), ou seja 11 vezes o PIB mundial. Um grupo de quatro bancos multinacionais - JP Morgan Chase, Citibank, Bank of America e HSBC - detém 24% dessa pirâmide, segundo Andrew Hughes, da Global Research. Para alguns analistas, esta pirâmide poderá ser o fósforo que incendeia a floresta em 2009;- o défice orçamental poderá rondar os 10% do PIB americano em 2009 e 2010 e manter-se em níveis vermelhos por vários anos (muitíssimo acima do que é proibido pelas regras da Zona Euro), segundo revelou o Borrowing Advisory Committee do Departamento do Tesouro.
Actualizado do artigo publicado na edição impressa de 7/02/2009

O Deus que eu acredito

Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as coisas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina).
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.»

Alberto Caeiro

12 de fev. de 2009

Manoel Ricardo de Lima

Manoel Ricardo está em Piauí!
E está escrevendo textos excelentes, com autenticidade, ou, como se diz, no jargão das letra, com respiração própria.
Continua com suas mentiras suaves. Nunca o vi revoltar-se. Nunca o vi desafinar o coro dos contentes (aprendeu com o outro, sabe?). Ainda bem que ele não se tornou um Sebastião Alba!
Há espaço para todos os caminhos.
Ainda bem que ele conhece Goethe e sua briga contra o Fausto.
Que lhe sirva de exemplo também.
Os novos devem aprender com os que se perderam abrindo os caminhos...

Oh! que luta inglória!
Par délicatesse
...

Entanto lutamos mal rompe a manhã.





11 de fev. de 2009

Visita ao Inconsciente

Vocês pensam que eu não consigo escrever nada sério?
Pois eu vou lhes dizer:
Este blog é uma espécie de terapia verborrágica-cognitiva.
Todos precisamos fazer terapia: esse negócio de entrar dentro de si mesmo é muito gostoso...
Então, eu estou entrando dentro de mim...
Fui até o inconsciente.
Cheguei lá e insultei o FDP: que estória é essa de dar pitacos no meu blog?
Eu estava tentando ser sofisticado, citando Heidegger, e você me vem com essa coisa simplória, filosofia de Praia Grande? Seu merda!!! - Eu disse.
Ele calado, como quem espera a próxima oportunidade de me sacanear...

É.
É difícil ser sério.

10 de fev. de 2009

desejo 2

Depois meu inconsciente ( será que eu tenho um?) me falou no ouvido:

- Ei, manéu, que filosofia é essa? não é mais fácil dizer:

ladrão é aquele que não pode comprar?


8 de fev. de 2009

Desejo

Desejar o objeto, mas não o caminho que a ele conduz.
Preciso lembrar quem disse isso.
Se não houver autoria no Google, eu pedirei registro.

*
*
*
Post-scriptum:
Lembrei: essa frase me foi sugerida pelo Prof. Benedito Nunes em um curso realizado em Belém _ Pa, no qual ele se referia ao conceito de "aceitação". Dizia o velho mestre que
 o ladrão é aquele que não sabe conquistar.


6 de fev. de 2009

Sentir

Sentimentos. Muitos sentimentos. O mundo é todo coração.
As tripas, a gula; o falo, a luxúria; o poder, a vaidade...
Aos poucos, as suavidades chegam.
A serenidade, a senilidade.
Como pensou Heidegger, quando chegou ao zen.
Importa envelhecer bem.
Uma vida bem vivida basta?
E quem não teve uma boa vida?
Quem foi ingênuo e perdeu a manhã e a tarde, chegará à serenidade?
Ou recuará à retarguarda, tentando viver o invivido?
A serenidade, a senilidade.
A uma ou outra, chegaremos...



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5 de fev. de 2009

BonJour




Bom Dia, mundo.

Estou iniciando meu novo blog.

Com as bênçãos do grande irmão
Google.
Divirtam-se comigo.