29 de jun. de 2009

Twitter do blog



Escrever em 140 caracteres?
Bom exercício. Algumas vezes, eu acerto.

http://twitter.com/senilidades

PS:
Configure o Mozilla para o twitter:

Vá em "ferramentas" > "complementos" > "adicionar" > "exibir todas as recomendações" > localize o complemento "twitterfox" e o instale no Mozilla.

Depois faça a conta no twitter e se inscreva nos conteúdos que lhe for de interesse.




Borboletas e pensamentos leves

Pensamentos

28 de jun. de 2009

26 de jun. de 2009

Do começo ao fim

O Marcelo pediu, e eu gostei.
Estou aprendendo que gay é aquele que se apaixona.
Os outros são de outras "ordens"...

24 de jun. de 2009

Nova tecnologia torna livros acessíveis a alunos cegos

Educação especial- MEC
Terça-feira, 23 de junho de 2009 - 17:52
Alunos com deficiência visual vão poder ler qualquer texto no livro digital falado. (Foto:João Bittar)Alunos com deficiência visual, baixa visão ou cegueira terão acesso gratuito a qualquer livro ou documento a partir de uma nova tecnologia que transforma texto escrito em áudio. Em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Ministério da Educação desenvolveu uma ferramenta de produção de livro digital falado. Foram investidos R$ 680 mil para criar a tecnologia, que será lançada nesta quarta-feira, 24, às 9h30, no Hotel Nacional, em Brasília, pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, e a secretária de educação especial, Cláudia Dutra.

“Essa solução tecnológica foi desenvolvida com base no padrão internacional Daisy”, explica a diretora de políticas de educação especial, Martinha Clarete dos Santos, em referência ao padrão Digital Accessible Information System (Daisy) – para produção e leitura de livros digitais.

Segundo ela, com base na tecnologia internacional, foi criada uma ferramenta adaptada às especificidades brasileiras, com narração de textos em português do Brasil, por exemplo. A tecnologia brasileira foi denominada de Mecdaisy e estará disponível gratuitamente no portal do MEC para qualquer interessado.

A ferramenta, segundo Martinha, confere autonomia à pessoa com deficiência visual, ao permitir acesso a qualquer tipo de informação escrita disponível para leitura no computador. “Hoje, o cego ou pessoa com baixa visão não encontra um formato de livro em que possa ler. É preciso procurar o livro em braille, ter um programa de ampliação de caracteres ou gravar o documento em áudio”, diz.

A tecnologia Mecdaisy permite que o usuário leia qualquer texto, a partir de narração em áudio ou adaptação em caracteres ampliados, além de oferecer opção de impressão em braille, tudo a um só tempo. Além disso, a tecnologia oferece recursos de navegabilidade muito simples. A partir de movimentos de teclas de atalhos ou do mouse, o leitor pode fazer anotações e marcações no texto, avançar e recuar na leitura etc.

“O Mecdaisy descreve figuras, gráficos e qualquer imagem presente no documento”, completa Martinha. Ela informa que o conjunto de programas ainda vem acompanhado de uma metodologia de produção de livros em formato digital acessível. Assim, a tecnologia permite a leitura de qualquer texto disponível no computador e a produção de livro digital.

“Pais, alunos, professores e editoras de livros poderão tornar seus livros ou acervos acessíveis às pessoas com deficiência visual de graça”, comemora Martinha. Para impulsionar a criação de acervos digitais acessíveis, o MEC destinará R$ 180 mil a cada um dos 55 centros de produção do livro acessível espalhados pelas cinco regiões do país.

“Os centros vão produzir os livros didáticos já distribuídos às escolas em formato acessível. Nos próximos editais dos programas do livro, o formato digital já estará contemplado”, informa Martinha. Os livros produzidos pelos centros integrarão o Acervo Digital Acessível, um espaço virtual criado pela Universidade de Brasília (UnB) que estará disponível na portal do MEC para que qualquer interessado acesse as obras.

“A tecnologia Mecdaisy democratiza o acesso ao livro, dá condição à livre produção, ao compartilhamento e até ao aperfeiçoamento dos programas, já que desenvolvedores podem incrementar a metodologia”, diz Martinha. A tecnologia Mecdaisy é compatível com os sistemas Windows e Linux.

Com a medida, o ministério amplia o apoio aos sistemas de ensino para tornar disponíveis recursos de tecnologia assistiva nas escolas e cumpre o disposto no artigo 58 do Decreto nº 5.296/2004, que estabelece: “O poder público adotará mecanismos de incentivo para tornar disponíveis em meio magnético, em formato de texto, as obras publicadas no país”.

Maria Clara Machado
Acesse aqui o instalador do MEC/DAISY


23 de jun. de 2009

Kids - o que fazemos deste mundo?

Kids                                                                                                                            

O fluxograma da escandalização

Do Blog Quanto Tempo Dura

Como funciona a imprensa brasileira (clique com o botão esquerdo do mouse para ampliar).




22 de jun. de 2009

Atos secretos são atos de vergonha.

                                                   
Trechos do artigo de Cesar Maia na Folha de SP do último sábado, "Opacidades dos Poderes".
         
1.
Os atos não publicados no Senado levantaram discussão sobre a
transparência do setor público em todos os níveis. O artigo 37 da
Constituição estabelece que "a administração pública direta e indireta
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência". O caso do Senado fere
diretamente o princípio da publicidade, afetando os da legalidade, da
impessoalidade e da moralidade. Há que se perguntar como isso ocorre
nas demais instâncias nele indicadas.
         
2. Basta que se
leiam os "Diários Oficiais" dos Poderes e das três instâncias dos
governos. É comum que atos administrativos relativos a processos muitas
vezes complexos sejam publicados nos "DO" com um simples "autorizo",
"defiro" ou "indefiro", ao lado de seus números, por parte das
autoridades, superiores ou subordinadas. Nem sempre os interessados têm
acesso direto às razões. Esse vazio regulamentador sobre o conteúdo
dessas publicações deveria ser coberto por uma legislação complementar
federal, relativa ao princípio da publicidade.
         

3.
Há casos ainda mais graves, que surgem quando há uma lei regulamentando
um fato específico e essa lei é simplesmente ignorada. Por exemplo, em
relação à LRF - Lei de Responsabilidade Fiscal. Dispositivos que
impedem repasses administrativos da União a Estados e municípios. Mais
de dez anos depois, o dispositivo que inclui entre as despesas de
pessoal os serviços terceirizados é esquecido, e os governos vão
terceirizando e, com isso, "reduzindo" as despesas de pessoal.
         
4.
Em 1998, foi aprovada a lei 9.717, que estabeleceu normas e limites
sobre as despesas previdenciárias estatais. É ignorada, seja em relação
a limites, seja em relação à criação dos fundos de aposentadoria, seja
em relação às obrigações patronais dos poderes.  Sublinhe-se que a
União se sente imune à LRF e à lei 9.717 e nem trata delas em relação a
suas responsabilidades fiscais. Isso para não falar dos precatórios de
Estados e Municípios, que geram insegurança jurídica geral. Os casos de
opacidade dos atos do Senado podem ser um bom momento para rever todas
as opacidades, por publicidade ou não regulamentação das leis.



Entendendo o Diabetes

ENTENDENDOODIABETES

21 de jun. de 2009

Brasil à venda

Estrangeiros querem terras para produzir alimentos e o País não tem controle desses investimentos

Maíra Magro

foto: divulgação
MATO GROSSO No Estado, pelo menos 800 mil hectares pertencem a estrangeiros

Cada vez mais interessados no Brasil, os investidores estrangeiros estão hoje especialmente atentos a um alvo: as terras nacionais. Durante sua visita à Arábia Saudita, no mês passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido por anfitriões interessados em produzir alimentos no Brasil. Para concretizar esse projeto, querem comprar terras agrícolas brasileiras, como já fizeram em outras partes do mundo.

O território nacional é visado pelo programa batizado como Iniciativa do Rei Abdullah para o Investimento na Agricultura no Exterior. Lançado em 2008 pelos sauditas, o empreendimento busca a autossuficiência alimentar, por meio da compra ou aluguel de latifúndios em nações com recursos naturais abundantes, para importar a produção. Esse é um movimento mundial: países com poucas áreas cultiváveis adquirem solos estrangeiros para produzir alimentos e importá-los.

"O principal agente motivador desse movimento é o medo causado pelo recente aumento dos preços dos alimentos", diz David Hallam, diretor da divisão de comércio e mercados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), em Roma. "Depender dos mercados mundiais para o abastecimento de comida e matéria-prima ficou mais arriscado", conclui Hallam.

Uma pesquisa recente do Instituto Internacional de Pesquisa em Política Alimentar (IFPRI, na sigla em inglês), baseado em Washington, nos Estados Unidos, revela que os investidores estrangeiros arremataram entre 15 milhões e 20 milhões de hectares de terras no exterior desde 2006, em operações que podem chegar a US$ 30 bilhões.

As negociações são feitas por empresas e fundos de investimento ou diretamente entre governos. Nessa corrida internacional, os principais compradores têm muito capital e pouca terra, como os países do Golfo, ou uma população grande, como a China, a Índia e a Coreia do Sul. Os vendedores são nações em desenvolvimento onde os custos da produção e do solo são muito mais baixos - a maior parte está na África, mas o Brasil compõe a lista.

4 milhões de hectares
de terras agrícolas brasileiras estão registrados como pertencentes a grupos internacionais, mas a área em poder dos estrangeiros pode ser bem maior

"O investimento estrangeiro traz renda, gera empregos e desenvolvimento", defende Anaximandro Doudement Almeida, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária. Mas especialistas defendem que o Brasil tenha maior controle sobre essas transações. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) contabiliza quatro milhões de hectares de terras agrícolas brasileiras registrados em nome de estrangeiros. Como muitos proprietários não declaram a nacionalidade no registro em cartório, essa extensão pode ser ainda maior. "Estimo que seja no mínimo três vezes mais", diz Rolf Hackbart, presidente do Incra.

Do total registrado, mais da metade está na Amazônia, e o Mato Grosso é o Estado com a maior área nas mãos de estrangeiros: pelo menos 800 mil hectares. Segundo Hackbart, a procura internacional por terras agrícolas voltou a crescer recentemente. "Recebi várias delegações da China querendo comprar áreas no Brasil ou se associar a grupos nacionais para produzir alimentos e biocombustível", diz. Corretores especializados confirmam um reaquecimento nessa procura, após um período de queda com a crise econômica mundial iniciada no ano passado.

Para que estrangeiros comprem imensas áreas no Brasil basta abrir uma empresa brasileira com capital estrangeiro ou associar-se a grupos nacionais. "Temos que criar novas regras", reclama Hackbart, apontando as limitações já existentes para cidadãos estrangeiros e empresas constituídas no Exterior. Um parecer limitando a venda de terrenos a empresas brasileiras com capital estrangeiro está na Advocacia- Geral da União para análise desde agosto, sem previsão de desfecho.

Mesmo nos casos de venda direta a estrangeiros, o controle governamental é falho. "Tem até site estrangeiro na internet vendendo terra pública na Amazônia", alerta Hackbart. Na rede, é possível encontrar alguns classificados internacionais oferecendo imóveis agrícolas. Um deles anuncia: "O interior do Brasil é livre de intrusões governamentais como a fiscalização dos códigos de ocupação do solo, zoneamento e outros aborrecimentos."

"Esses (o solo) são os recursos naturais mais preciosos. Há um risco político imenso", diz Alexandra Spieldoch, do Instituto para Políticas de Agricultura e Comércio, em Minneapolis, nos EUA. A investida agrícola internacional chama a atenção pelo tamanho. No Sudão, 690 mil hectares pertencem à Coreia do Sul, 400 mil hectares são dos Emirados Árabes e o Egito tem área semelhante. A China obteve o direito de usar 2,8 milhões de hectares no Congo e está negociando terras em Zâmbia.

Em janeiro, na Arábia Saudita, o rei Abdullah promoveu uma curiosa cerimônia: celebrou o recebimento dos primeiros grãos de arroz "saudita" produzidos no exterior. Vieram da Etiópia, onde o país está investindo US$ 100 milhões na plantação de arroz, trigo e cevada. Um fundo de investimentos de US$ 800 milhões, criado pelo governo saudita, está financiando o cultivo de arroz, trigo, cevada e milho em outros países, além da criação de animais. Os objetivos sauditas são claros. Mas no Brasil, até agora, não se sabe sequer o tamanho da presença estrangeira.

copiado sem autorização do Blog do Protógenes








Brasil à venda

Estrangeiros querem terras para produzir alimentos e o País não tem controle desses investimentos

Maíra Magro

foto: divulgação
MATO GROSSO No Estado, pelo menos 800 mil hectares pertencem a estrangeiros

Cada vez mais interessados no Brasil, os investidores estrangeiros estão hoje especialmente atentos a um alvo: as terras nacionais. Durante sua visita à Arábia Saudita, no mês passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido por anfitriões interessados em produzir alimentos no Brasil. Para concretizar esse projeto, querem comprar terras agrícolas brasileiras, como já fizeram em outras partes do mundo.

O território nacional é visado pelo programa batizado como Iniciativa do Rei Abdullah para o Investimento na Agricultura no Exterior. Lançado em 2008 pelos sauditas, o empreendimento busca a autossuficiência alimentar, por meio da compra ou aluguel de latifúndios em nações com recursos naturais abundantes, para importar a produção. Esse é um movimento mundial: países com poucas áreas cultiváveis adquirem solos estrangeiros para produzir alimentos e importá-los.

"O principal agente motivador desse movimento é o medo causado pelo recente aumento dos preços dos alimentos", diz David Hallam, diretor da divisão de comércio e mercados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), em Roma. "Depender dos mercados mundiais para o abastecimento de comida e matéria-prima ficou mais arriscado", conclui Hallam.

Uma pesquisa recente do Instituto Internacional de Pesquisa em Política Alimentar (IFPRI, na sigla em inglês), baseado em Washington, nos Estados Unidos, revela que os investidores estrangeiros arremataram entre 15 milhões e 20 milhões de hectares de terras no exterior desde 2006, em operações que podem chegar a US$ 30 bilhões.

As negociações são feitas por empresas e fundos de investimento ou diretamente entre governos. Nessa corrida internacional, os principais compradores têm muito capital e pouca terra, como os países do Golfo, ou uma população grande, como a China, a Índia e a Coreia do Sul. Os vendedores são nações em desenvolvimento onde os custos da produção e do solo são muito mais baixos - a maior parte está na África, mas o Brasil compõe a lista.

4 milhões de hectares
de terras agrícolas brasileiras estão registrados como pertencentes a grupos internacionais, mas a área em poder dos estrangeiros pode ser bem maior

"O investimento estrangeiro traz renda, gera empregos e desenvolvimento", defende Anaximandro Doudement Almeida, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária. Mas especialistas defendem que o Brasil tenha maior controle sobre essas transações. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) contabiliza quatro milhões de hectares de terras agrícolas brasileiras registrados em nome de estrangeiros. Como muitos proprietários não declaram a nacionalidade no registro em cartório, essa extensão pode ser ainda maior. "Estimo que seja no mínimo três vezes mais", diz Rolf Hackbart, presidente do Incra.

Do total registrado, mais da metade está na Amazônia, e o Mato Grosso é o Estado com a maior área nas mãos de estrangeiros: pelo menos 800 mil hectares. Segundo Hackbart, a procura internacional por terras agrícolas voltou a crescer recentemente. "Recebi várias delegações da China querendo comprar áreas no Brasil ou se associar a grupos nacionais para produzir alimentos e biocombustível", diz. Corretores especializados confirmam um reaquecimento nessa procura, após um período de queda com a crise econômica mundial iniciada no ano passado.

Para que estrangeiros comprem imensas áreas no Brasil basta abrir uma empresa brasileira com capital estrangeiro ou associar-se a grupos nacionais. "Temos que criar novas regras", reclama Hackbart, apontando as limitações já existentes para cidadãos estrangeiros e empresas constituídas no Exterior. Um parecer limitando a venda de terrenos a empresas brasileiras com capital estrangeiro está na Advocacia- Geral da União para análise desde agosto, sem previsão de desfecho.

Mesmo nos casos de venda direta a estrangeiros, o controle governamental é falho. "Tem até site estrangeiro na internet vendendo terra pública na Amazônia", alerta Hackbart. Na rede, é possível encontrar alguns classificados internacionais oferecendo imóveis agrícolas. Um deles anuncia: "O interior do Brasil é livre de intrusões governamentais como a fiscalização dos códigos de ocupação do solo, zoneamento e outros aborrecimentos."

"Esses (o solo) são os recursos naturais mais preciosos. Há um risco político imenso", diz Alexandra Spieldoch, do Instituto para Políticas de Agricultura e Comércio, em Minneapolis, nos EUA. A investida agrícola internacional chama a atenção pelo tamanho. No Sudão, 690 mil hectares pertencem à Coreia do Sul, 400 mil hectares são dos Emirados Árabes e o Egito tem área semelhante. A China obteve o direito de usar 2,8 milhões de hectares no Congo e está negociando terras em Zâmbia.

Em janeiro, na Arábia Saudita, o rei Abdullah promoveu uma curiosa cerimônia: celebrou o recebimento dos primeiros grãos de arroz "saudita" produzidos no exterior. Vieram da Etiópia, onde o país está investindo US$ 100 milhões na plantação de arroz, trigo e cevada. Um fundo de investimentos de US$ 800 milhões, criado pelo governo saudita, está financiando o cultivo de arroz, trigo, cevada e milho em outros países, além da criação de animais. Os objetivos sauditas são claros. Mas no Brasil, até agora, não se sabe sequer o tamanho da presença estrangeira.

copiado sem autorização do Blog do Protógenes






20 de jun. de 2009

18 de jun. de 2009

Maria Valéria Rezende

Inútil espantalho
pardais pousam-lhe nos braços
como nos galhos
 

mar de capim verde
a ema é um periscópio
vigiando a tarde



tiro no silêncio
um farfalhar de asas
três ovinhos órfãos


oco de pau seco
abrigo para a ninhada
do pássaro-preto


árvore morta
aponta no céu
o pássaro vivo


atrás da formiga
corre lá e cá e cisca
uma lavandisca


canta o concriz
nem alegre nem triste
apenas canto


a tarde inteira
casal de maracanãs
amor na figueira


bem-te-vi fez ninho
entre as pitangas maduras
colho-as de mansinho


canta o curió
solta a voz para o horizonte
esperando o sol


toc, toc, toc, toc, toc,
ninguém bate à minha porta
pica-pau no tronco



no lombo da vaca
pequena garça branca
pasta carrapatos


mão de menino
sobe uma pedra nos ares
cai passarinho




Descobri esta moça e adorei.



16 de jun. de 2009

Um dia de fúria de Joyce

Hoje, em todo o mundo, os fãs de James Joyce (1882-1941) comemoram o Bloomsday. Foi no dia 16 de junho que Joyce ambientou toda a ação do seu Ulysses, um dos mais revolucionários livros de todos os tempos. O Amálgama publica abaixo alguns trechos selecionados das páginas iniciais de O gozo de Ulysses, livro recém-lançado de Noga Lubicz Sklar*, uma espécie de diário de leitura do clássico joyceano.

—–

Capa da primeira edição de UlyssesJá tendo lido, e com prazer inenarrável, as primeiras em páginas do velho Ulisses de James Joyce – meu livro fechado de cabeceira há mais de 15 anos e que só agora, nestas férias de verão, me dedico a encarar –, não consigo entender o motivo de ter hesitado tanto. Deve ter sido o marketing ou, no caso, o antimarketing, reforçado em reunião de família por minhas jovens primas, que acham que esse livro é chato: um adjetivo que não se aplica, de maneira alguma, a este ícone da literatura. Incomum, tudo bem, pode ser, meio difícil até para quem, não tendo o hábito da boa leitura, se limita aos lançamentos – resenhados e apreciados por razões às vezes obscuras (pra não dizer comerciais mesmo). Agora, chato? Inovador, isso sim. Poético. Instigante; gratuito, nunca: dá pra sentir a clara intenção do autor por trás das muitas citações, dos neologismos, da ordem expressa das palavras. E nada de preguiça de (re)escrever. Ou pressa em publicar.

Por enquanto estou lendo, claro, a versão em português de Antônio Houaiss e, por falta de opção melhor**, confiando nela, na lendária erudição do tradutor e na ampla compreensão que ele teve do original, coisa que eu certamente jamais alcançarei. Porque o próximo passo, me acreditem, é perscrutar o original que encomendei na Amazon.

Pois é. Com meu vício de folhear à frente, já deu pra perceber: quase tudo que se considera avançado, transgressor e original na literatura contemporânea está lá, pasmem, há quase cem anos pra todo mundo ler. Meu romance Hierosgamos, por exemplo, tem trechos inteiros que parecem copiados dele, mas como, juro que não sei. Deve ter sido por osmose, por metempsicose (“mentem-se o quê?”). Diz Augusto de Campos, na orelha desta edição de 1966, que “a divulgação deste livro é capaz de contribuir, e muito, a curto e longo prazo, para o soerguimento qualitativo da nossa prosa que, salvo raras exceções, ainda não se apropriou do legado da revolução joyciana”. Ah bom, muita coisa mudou desde então. Ou não?

*

Descubro no Google que até fome o escritor passou para escrever Ulisses, e quem garantiu a sobrevivência dele, da família dele e do próprio livro, foi Sylvia Beach – editora americana radicada em Paris, fundadora da livraria Shakespeare and Company –, ao transcender as limitações de um mercado que, na época, imaginem, quase relegou Ulisses à não-publicação.

*

Vocês, eu não sei, mas eu não sabia disso: o Ulisses, banido sob a acusação de obscenidade, só veio a ser publicado nos EUA – graças à sensibilidade do juiz federal John M. Woolsey – em 1933, onze anos após a primeira edição na França. “Joyce foi atacado e frequentemente incompreendido, por ter sido fiel à sua técnica e por ter tentado, honestamente, dizer o que pensavam seus personagens”, declarou na sentença o juiz Woolsey. “Foi sua tentativa honesta e sincera de atingir este objetivo que o levou a usar certas palavras geralmente consideradas sujas e que motivou o que muitos julgam ser uma preocupação excessiva com sexo no pensamento dos personagens.” Nossa. Eu não fazia ideia. Imaginem um livro tão proibido sendo lido e apreciado na Minas careta dos anos 1960 e, pior, pelos meus pais.

“O caso de Ulisses”, afirma o editor americano do romance, “marca um momento de virada. Foi eliminada a necessidade de hipocrisia e circunlóquio na literatura. Os escritores já não precisam buscar refúgio em eufemismos, e podem agora descrever as funções humanas básicas sem medo da lei”. Uau! James Joyce, imaginem… Hermético autor de um romance globalmente famoso, complicadíssimo apanhado de neologismos incompreensíveis… Pois lendo, descobri que não é nada disso.

O livro é intuitivo. É bem-humorado. E acaba sendo sofisticado ao retratar sem nenhuma evasiva, “com franqueza inédita”, o pensamento fluente da “classe média baixa da Dublin de 1904”. Na versão original, fica bem clara a origem sonora dos tais coloquialismos, pinçados genialmente, se não me engano, da linguagem descuidada das ruas: eis aí a delícia de Ulisses, legítimo parque de diversões da mente. Segue o extrato de um dos meus trechos favoritos:

Um jornal. Gostava de ler no assento. Espero que nenhum macaco resolva bater no que estou. Agachado no trono dobrou seu jornal, virando as páginas sobre os joelhos nus. Algo novo e fácil. Sem pressa. Segura um pouco. Nosso bocado premiado. O Golpe de Mestre de Matcham. Escrito pelo Sr. Philip Beaufoy, do Clube dos Frequentadores de Teatro, Londres. Leu calmamente, se controlando, a primeira coluna e, cedendo, mas resistindo, começou a segunda. A meio caminho, vencendo a última resistência, permitiu que os intestinos se aliviassem calmamente enquanto lia, lendo ainda pacientemente, a leve constipação de ontem quase resolvida. Espero que não grande demais pra causar hemorróidas de novo. Não, no ponto. Ah. Isso. Prisão de ventre, um tablete de cáscara-sagrada. Rasgou com firmeza metade do conto premiado e com isso se limpou. Depois levantou as calças, ajustou-as, se abotoou. Empurrou a idiota da porta desconjuntada da casinha e saiu das sombras para o ar livre.

Isto é Joyce, gente. Maravilhoso, não? Ops. Virginia Woolf não gostou nem um pouco, achou o texto vulgar, nojento: problema dela e de quem concordar com ela, de quem se limita – por vontade própria – a um eufemismo cultural imaturo, ameaça à evolução da raça. Me contem fora dessa.

* Noga Lubicz Sklar nasceu em Tibérias, Israel, em 1952. Graduou-se em arquitetura no Rio de Janeiro. Desde 2004, dedica-se exclusivamente à literatura e escreve em seu blog de crônicas. O gozo de Ulysses é seu terceiro livro – para comprá-lo, clique aqui.

** Quando a autora primeiro publicou esse texto, em seu blog, a nova tradução de Ulisses, por Bernadina da Silveira Pinheiro (2008) ainda não havia sido publicada.

Copiado sem autorização do amalgama.

9 de jun. de 2009

MARILYN: Never-Published Photos

Da Life

8 de jun. de 2009

Recalcitrante


Aqui, no Maranhão, temos um dos melhores jornalistas do país.
Não deve nada aos Nassifes, Dorias, Azenhas e Josias da vida. Faz jornalismo  culto, procurando ser ponderado e elegante. Escreve muito bem. Quantas vezes não tenho lido seus artigos só pelo prazer de acomparlhar-lhe o raciocínio... Embora não concordando com tudo que diz.
Entretanto, mora num blog incolor, inodoro, insosso.
Não tem feeds, não se pode acompanhar-lhes os posts em tempo real.
Será que tem medo do grande irmão?
Será que não sabe o que é rss, o que é reader, medidores de acesso, ferramentas de divulgação, twister e del.icio.us...?
Sabe, sim, mas é recalcitrante demais para abandonar a velha máquina de escrever...
E teimosia não combina com inteligência e muito menos com jovialidade...


7 de jun. de 2009

Responsabilidade de Falar

"Minha mulher me chama de Grouxo – aquele personagem dos X-Men que tem a língua enorme; outras vezes diz que, quando eu morrer, meu corpo vai num caixão e minha língua num caminhão (imaginem o que ela tem ouvido por aqui...). Para quem gosta de escrever, isso é um elogio. No entanto, eu sei que a verborragia é uma doença e não uma virtude. A doença de Grouxo é falar sem responsabilidade. Para falar uma vez é preciso calar mil. Ou, como dizia meu avô, o falar é de prata e o calar é de ouro.

O povo espírita diz que reencarnamos para cumprir um ciclo de limpeza cármica. (centrífuga divina, não ria...). Você compreende isso? Nós nos sujamos na infância da alma e Deus (seja lá o que isso for), eternamente misericordioso, permite que voltemos à fonte para nos limparmos. Essa teoria é análoga à da Colônia Penal, pela qual estaríamos aqui para cumprir uma pena, como intuiu o faminto Kafka. Eu não estou escrevendo sob inspiração de nenhum espírito, salvo engano, por isso, meu raciocínio não é suficiente para penetrar nas sutilezas dessas teorias. Entendo apenas que na outra encarnação eu nasceria mudo.

Sim, o mal é o que sai da boca do homem. Deve-se acrescentar: porque o coração está cheio. A língua é apenas um instrumento do coração. Ela é um escravo obediente. Abusar do escravo pode aleijá-lo. Muito bem, mas a raiz do problema está mesmo no coração, a fonte conspurcada donde brota a água venenosa do rancor, o fel da revolta, e todas as outras maldades. Horror! Eu não quero voltar mudo. Não quero meu coração impuro com as ilusões do mundo. Quero limpar minhas mãos e aprender a falar com a brandura de quem conhece o mal, mas não compactua com ele, nem o dissemina.

Não disseminar a revolta, mesmo sensibilizado com os que sofrem sem lar, sem afeto, sem remédio, sem amigo; mesmo compreendendo as vergonhas do homem e as prepotências de classe; mesmo compreendendo as mentiras que se divulgam para ocultar a corrupção; mesmo compreendendo que o mundo é dos vitoriosos. Vitoriosos, dos quais Sarney nos deu uma definição perfeita ao defender Renan Calheiros no Senado: "ele não chegou até aqui porque é santo"...

Como falar, despertando a consciência (crítica, antes de tudo), sem despertar junto a serpente do mal adormecida no coração do homem? A resposta vem do Cristo, cuja psicologia profundíssima ainda nos assombra:

- Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que limpais por fora o copo e o prato e que estais por dentro cheio de rapina e impurezas! Fariseus cegos! Limpai primeiro o interior do copo e do prato, a fim de que também o exterior fique limpo.

Sim. Limpemos nosso coração para que nossa boca fale palavras de luz. Limpemos o coração antes de demonstrar as sombras do mundo, sob o risco de sermos devorados por elas.

Meu esforço para compreender as palavras do Cristo talvez me salve de voltar mudo."

César Teixeira - melhor album



Faça o download aqui.
*



6 de jun. de 2009

Filmes sobre comércio sexual

Anjos do Sol (2006)

(Brasil)
Gênero: Drama
Direção: Rudi Lagemann
Maria, garota de 12 anos que mora no interior do nordeste brasileiro, é vendida pela família a um recrutador de prostitutas. Após ser comprada em um leilão de meninas virgens, a menina é enviada a um prostíbulo na floresta amazônica, onde sofre vários abusos.


Deserto Feliz (2007)

(Brasil/Alemanha)
Gênero: Drama
Direção: Paulo Caldas
Após ser violentada pelo padrasto, adolescente foge para Recife. Para sobreviver na cidade grande, a menina acaba envolvida no turismo sexual e conhece o alemão Mark, por quem se apaixona.
 

Canto de Cicatriz (2005)

(Brasil)
Gênero: Documentário
Direção: Laís Chaffe

Neste documentário, a violência sexual contra meninas é mostrada sem tabus, a partir de depoimentos de vítimas, especialistas, enquetes, filmes de ficção e dos versos do escritor e psiquiatra infantil Celso Gutfreind.



Zona de Conflito (1999)

(Inglaterra)
Título Original: The War Zone
Gênero: Drama
Direção: Tim Roth

O adolescente Tom muda-se com a família de Londres para uma cidade do interior. Lá, descobre o segredo que liga seu pai à sua irmã, Jessie, de 18 anos.



Mistérios da Carne (2004)

(EUA/Holanda)
Título Original: Mysterious Skin
Gênero: Drama
Direção: Gregg Araki

Aos oito anos, Brian acorda do lado de fora de sua casa. Sem lembranças sobre o que aconteceu, o menino cria uma fantasia: acredita que fora abduzido por alienígenas. Agora, aos 18 anos, Brian descobre que suas memórias não são o que parecem.


Festa de Família (1998)

(Dinamarca)
Título Original: Dogme 1 – Festen
Gênero: Drama
Direção: Thomas Vinterberg

Helge, pai de quatro filhos, resolve dar uma grande festa de família para comemorar seus 60 anos. Durante o evento, porém, segredos sórdidos acabam sendo revelados. O filme aborda diversos temas polêmicos, como traição, preconceito, morte em família e, principalmente, pedofilia.


O Lenhador (2004)

(EUA)
Título Original: The Woodsman
Gênero: Drama
Direção: Nicole Kassell

Depois de 12 anos preso por molestar garotas menores de idade, Walter consegue a condicional e muda-se para uma pequena cidade. Sua nova casa, porém, fica em frente a uma escola de ensino básico. Walter luta para manter seu passado oculto.

4 de jun. de 2009

Museu da Corrupção


Através do ex-blog do César Maia (um Demo muito legal), descobri este saite:

Museu da Corrupção


Muita informação sobre roubalheira no Brasil.

Coisa do Demo: tomem cuidado!

Na porta da CPI da Petrobrás, por exemplo, aparecem lá só as matérias jornalísticas plantadas na mídia comum.

Não se ousa falar quais são os interesses econômicos e financeiros que estão em jogo ali.

De qualquer forma, na porta da Polícia Federal, percebemos que os meninos trabalham pra caramba. Mas percebemos também que todo esse trabalho funciona apenas de forma pedagógica. Basta ter um político no colete para que nada aconteça... Deve ser horrível trabalhar assim...

2 de jun. de 2009

Não Violência Ativa – Monja Coen



Ontem, assistindo ao programa de
Ronnie Von
, vi a Monja Coen falando sobre Não Violência Ativa.
O pobre apresentador estava tão distante desse universo que só podia ser absolutamente gentil, como é de sua natureza.
A monja, que eu não conhecia, pareceu-me extremamente segura na sua verdade. Falou sobre não violência ativa como a não violência dos não idiotas, ou seja, não se deve ser trotskista, mas também não se deve ser menudo.
Eu que gosto da poesia zen; que gosto de dar risadas das absurdas piadas zen; que gosto do jeito sério dos meninos zen acharem que podem mudar o mundo, eu que já li e gostei da Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen, eu gostei da Monja Coen.






Não Violência Ativa: Um Modo de Vida

RICHARD DEATS

Quando Martin Luther King Jr. foi para o seminário, acreditava que a mensagem de Jesus ajudava as pessoas a se tornarem indivíduos amorosos, compassivos, honestos, corajosos, pacientes e gentis. Mas não entendia como tais qualidades pessoais poderiam ser relevantes no tocante aos grandes males sociais do seu tempo: racismo, guerra, opressão, injustiça. Ele então estudou Gandhi e o movimento de libertação da Índia. Ali encontrou, em grande escala, um movimento de libertação que resistiu ao maior império daquele tempo usando métodos consistentes com o caminho da verdade e do amor. King depois escreveu que o indiano Gandhi mostrou a ele que sua incredulidade em relação ao poder do amor era infundada. "Vim a perceber pela primeira vez que a doutrina cristã do amor, operando pelo método gandhiano da Não-Violência, era uma das armas mais poderosas disponíveis para os povos oprimidos em sua luta pela liberdade: "Gandhi demonstrou de forma poderosamente atual as implicações do Sermão da Montanha". Gandhi ensinou que Deus é Verdade e a Verdade é Deus, e que a natureza do poder está fundada na Verdade mesma. Gandhi intitulou sua autobiografia de "Minha Vida e Minhas Experiências com a Verdade", e nela escreveu que: "Para as pessoas de boa vontade o único nome de Deus é Verdade".

Os tiranos e opressores temem a verdade, por isso constroem seu poder sobre mentiras, golpes, censura e violência. A arma mais poderosa que os pobres e oprimidos possuem para lutar não é o uso maior nem mais ardiloso da violência, nem mentiras em contra-ataque, nem propaganda, mas a Verdade mesma. O mal pode ser vencido com aquilo que Gandhi chamava de satyagraha. Satya é a verdade que se equipara ao amor. Graha é força. Satyagraha é a força da verdade ou a força do amor. Hoje o termo não-violência vem sendo usado no lugar de satyagraha. Antes de Gandhi o movimento de libertação da Índia era subterrâneo, marcado por ódio, assassinatos e bombardeios.

Gandhi transformou a luta pela liberdade num movimento aberto, que diz a verdade, não-violento. Leis opressivas e autoridades cruéis eram confrontadas com ações corajosas, marcadas pela verdade e pelo amor. Enfrentar o ódio e a violência com ódio e violência é tornar-se igual ao inimigo. O sofrimento não merecido por parte do seguidor da Verdade é fonte de redenção. Gandhi ensinava que não se deve trabalhar por uma causa nobre através de meios condenáveis, pois os meios e os fins estão interligados assim como a semente e a árvore. Para construir a sociedade sem classes ou para obter um crescimento rápido do produto interno do país, o terror e a repressão parecem ser justificáveis. Não, dizia Gandhi. "Se cuidamos dos meios, o fim cuidará de si mesmo... Sempre temos controle sobre os meios, nunca sobre os fins. "Martin Luther King Jr. descobriu o poder das percepções de Gandhi na luta pelos direitos civis. Descobriu que Gandhi havia penetrado no coração mesmo da mensagem de Jesus: o sofrimento por amor e a Cruz.

Isto contrasta muito com o cristianismo popular que fala de Jesus, mas ignora Sua mensagem. O cristianismo é popularmente apresentado como uma doutrina em que se deve acreditar ao invés de um caminho de amor a ser vivido. A Bíblia não diz que "O verbo se tornou palavras". Diz que "O Verbo se fez carne". Ser um seguidor de Jesus significa viver uma vida de amor e levar a cruz. King via a cruz como "o poder de Deus para a salvação individual e social". "Amar o inimigo", "dar a outra face", "andar a segunda légua", "vencer o mal com o amor" eram ensinamentos de Jesus para um povo oprimido que vivia sob o jugo cruel do Império Romano. King ajudou os negros oprimidos a enxergarem que esta mensagem era dirigida a eles também. Juntos eles cantavam "We shall Over come" (Nós Venceremos). E venceram! Balas e jatos de água, cães policiais e cassetetes elétricos não conseguiram detê-los. Suas igrejas foram queimadas, e suas casas bombardeadas. Eles perderam seus empregos e foram levados para a cadeia. Mas permaneceram fiéis ao seu compromisso com a não violência. Descobriram que a verdade e o amor eram mais fortes que qualquer coisa que o inimigo pudesse fazer contra eles.

Gandhi e King nos ensinaram a olhar de modo novo para a natureza do poder. Muitos pensam erroneamente que o poder vem da violência, e que pode ser derrotado somente por violência maior. Gandhi disse que "A força não vem da capacidade física, mas de uma vontade indomável". A justiça da causa indiana deu ao seu povo uma vontade mais forte que o poderio bélico britânico. O professor Gene Sharp, em sua obra de treze volumes A Política da Ação Não-Violenta, diz que a essência do poder não está no poderio militar, mas no povo. Ele é governado pelo Estado até o ponto em que aceita cooperar com o Estado. O Estado perde seu poder quando o povo retira ou diminui sua cooperação. Como escreveu Jose Rozal, o grande patriota Filipino: "Não há escravidão onde não houver escravos dispostos a servir". Sharp prossegue, examinando a não-violência como método para resistir ao mal e sobrepujar a injustiça.

Embora Gandhi e King sejam os mais famosos expoentes da não-violência, Sharp procura exemplos de não-violência na história e encontra numerosos casos de: protestos, persuasão, não-cooperação e intervenção não-violentos. Ele documentou 198 métodos específicos de não-violência, e defende a tese de que são formas exeqüíveis e práticas de lidar com a opressão ¯ mesmo desconsiderando a base religiosa para a não-violência de Gandhi e King. Sharp mostra como pessoas comuns, que não eram pacifistas nem santos, usaram a ação não-violenta e "passaram a ganhar salários mais altos, quebraram barreiras sociais, mudaram políticas governamentais, frustraram invasões, paralisaram um império e dissolveram ditaduras". Quais são esses métodos? Somente alguns tipos representativos serão mencionados aqui, para sugerir a variedade e o escopo da não-violência.  

INVESTIGAÇÃO:

Ao combater a injustiça, a simples revelação da verdade – sobre mentiras governamentais, brutalidade policial, ou leis injustas, por exemplo – pode ser tremendamente poderosa. Nada afugenta a escuridão como a luz, nada enfraquece a falsidade como a verdade. A investigação cuidadosa e honesta ajuda a divulgar a verdade para um grupo maior de pessoas. Mesmo as vítimas diretas podem às vezes desconhecer a extensão de sua opressão antes que seja feita uma coletânea séria dos fatos. Richard Nixon tinha grande poder antes da investigação de Watergate erodir esse poder. A Glasnost (transparência) pôs a público a censura e mentiras que vinham sendo usadas no bloco soviético e acelerou o fim do controle totalitário. 

EDUCAÇÃO:

Para que a investigação tenha sucesso, a notícia deve se espalhar para um círculo cada vez maior de pessoas. A educação não vem apenas da sala de aula e dos livros; pode vir de um evento, um folheto ou uma palavra falada que comunica a verdade. Quando reinava a lei marcial nas Filipinas, um boletim religioso chamado Signs of the Times documentou questões importantes que não saíam nos jornais. Quando o boletim foi cassado pelo governo, outro boletim, com nome diferente,apareceu. Quando os exemplares chegavam ao correio, antes mesmo de serem postados, eram passados de mão em mão. Quando finalmente este boletim teve que parar de ser publicado, um bispo continuou o trabalho através de suas cartas pastorais periódicas.
 NEGOCIAÇÃO: 
Devemos tentar negociar um acordo para uma questão sempre que possível. Todas as possibilidades devem ser tentadas. Se houver qualquer parte da lei na qual possamos nos apoiar – por exemplo, a lei trabalhista – ela deveria ser a base de negociações. Os africanos-americanos na luta pelos direitos civis nos Estados Unidos não recorreram a boicotes e ocupação de lugares reservados aos brancos antes de terem se esforçado ao máximo para negociar um acordo. A negociação com uma padaria do Mississipi fracassou e seus produtos foram boicotados. Por fim a padaria se mostrou disposta a contratar africanos-americanos e a negociação se tornou viável e, por fim, bem sucedida. 
BOICOTE: 
O boicote é uma forma muito poderosa de desafiar uma situação injusta. Neste tipo de ação cada indivíduo pode fazer a sua parte, e se desejar, continuar anônimo. Gandhi liderou um boicote às roupas de origem britânica, e promoveu o renascimento dos tecidos feitos a mão, o que ajudou de forma marcante para que os indianos ganhassem autoconfiança. O United Farm Workers (Sindicato dos Trabalhadores Rurais), o sindicato dos trabalhadores mais explorados dos Estados Unidos, conseguiu que milhões de norte-americanos e europeus boicotassem a alface, e depois de alguns anos, venceram a batalha desigual contra fazendeiros ricos e poderosos. 
DEMITIR-SE: 
Pedir demissão para não participar de um sistema injusto é uma forma de enfraquecer aquele sistema. Na Noruega durante a segunda guerra mundial milhares de professores demitiram-se de seus cargos para não ensinar pelos padrões nazistas. Toda a Suprema Corte resignou para não aplicar a lei nazista. Os bispos e pastores deixaram seus cargos na igreja estatal; continuaram suas atividades pastorais, mas não sob o controle das forças de ocupação. Em 1963 no Vietnam sob o jugo de Diem, 47 professores da Universidade de Hue exoneraram-se após ser demitido o reitor católico da universidade. O reitor havia sido demitido por apoiar a luta budista. 

PROCISSÕES RELIGIOSAS:

Em alguns lugares as passeatas são ilegais, mas as procissões religiosas permitidas. No Brasil uma fábrica foi construída às margens de um rio, e o lixo tóxico começou a matar os peixes. Os pescadores sofriam com isso e tentaram protestar, mas isso não foi permitido. Eles então foram assistidos por um padre, que os levou em procissão da igreja até a fábrica. Cada pescador levou um peixe morto e o depositou nos degraus da fábrica.* Richard Deats é diretor da FOR – atividades inter-religiosas dos Estados Unidos.Ele ministra workshops de não-violência ativa nas Filipinas, Corea do Sul, África do Sul, Hong Kong, Tailândia, nos Estados Unidos e na Rússia. Este artigo foi extraído de "Essays in Nonviolence", editado por Therese de Conninck.


 * Traduzido do original em inglês com a permissão de Fellowship of Reconciliation e Season for Nonviolence.[Tradução: Tônia Van Acker – Revisão Técnica: Lia Diskin, Associação Palas Athena]