Ele estava se convertendo a alguma religião evangélica. Não havia no grupo a empolgação de ter encontrado a ovelha há muito perdida. Havia uma seriedade calculada e talvez um certo mal-estar pelo peso daquele resgate. Era apenas uma obrigação para o pastor – uma difícil obrigação, a que ele se entregava preocupado.
Deram-se as mãos em círculo. Rezaram o Pai-Nosso. Alguém fez uma prece, ao que foi seguindo por outro e mais outro até chegar ao convertido. Este cabisbaixo, meditabundo, derrotado, balbuciou algumas palavras do fundo do coração: "que meus filhos possam enfrentar com segurança um mundo de gente má e envergonhada".
Sim, era aquilo que o pastor temia. O mal-estar do grupo aumentou. Desfez-se o círculo. Cada um falou palavras consoladoras, com mais ou menos cinismo.
Nos meses seguintes, o convertido sentiu o peso da rejeição. Tratavam-no com secura e indiferença como se fosse um estranho no ninho. No fundo do coração, porém, estava puro na sua verdade. Os outros nadavam sobre o nada. Faziam grande esforço para compreender o Cristo e sua história de bondade e renúncia. Permaneciam no distanciamento dos rituais e das práticas convencionais, não queriam perder a segurança do mundo conhecido.
Ele, ao menos, havia alcançado um pouco da sabedoria de aceitar as imperfeições alheias. Aprendeu a identificar a dor de cada um. Olhava o pastor e via um homem com grande desejo de poder, condenado a, todo domingo, dizer palavras consoladoras a uma multidão que desprezava. Via as senhoras gordas querendo ser amadas e amadas. Via os homens taciturnos, cada um com seu mistério.
O domingo era bom, apesar de tudo: era o dia em que a rejeição ensinava humildade.