O caminhar perguntando do Caracol de Caratateua e os novos ajuris
Já dura três meses a vivência no Caracol de Caratateua. Três meses em que jovens saídos de centros urbanos refletem sobre as possibilidades revolucionárias a partir da experiência cotidiana na "periferia" de Belém. Falando menos e ouvindo mais, reavaliando as referências teóricas dos centros políticos que carrega(va)m, aprendendo a ser "derrotados" pelos que desejam que se levantem da condição de opressão... Esperam que o Caracolteua seja um espaço autônomo de encontros, onde se articulem as lutas do campo e da cidade para que deixem de ser "centro" e "periferia", e onde possam ser inventadas novas formas de luta. A experiência começou a partir do convite publicado no CMI para o primeiro "ajuri do Caracol", feito pela rede de inspiração zapatista Flor da Palavra no ímpeto de criar um espaço autônomo permanente e para se cultivar a comunicação e a solidariedade.
Em seu lento rastejar em meio à lama, lixo, violência urbana, "pobreza", destruição das matas e igarapés, danças, sabedorias, frutas, carimbó e outras resistências cotidianas, o Caracolteua avançou seu primeiro decímetro. Está desenvolvendo um projeto de horticultura comunitária com estudantes de uma escola pública, comprou um terreno com as doações do primeiro ajuri e vem convidando braços e corações para construção de sua sede. É o segundo ajuri que começa, e do qual você também pode participar! "Ajuri" é a prática tradicional dos povos da Amazônia, na qual grupos e pessoas se unem numa solidariedade rotativa, participando coletivamente dos trabalhos de uma comunidade ou família de cada vez.
No dia 25/4, sob chuva e garoa, foi feito um mutirão para levantar a estrutura de madeira do teto, que foi preparada nos dias anteriores: "Vieram três voluntários de Belém, veio o apoio de um caboclo pai d´égua de Caratateua com muitos conhecimentos práticos e 'científicos' que na semana passada nos apresentou alguns segredos da floresta, numa caminhada pelas trilhas da Faixa Verde. O Ronafar [ativista da música e do artesanato de instrumentos musicais] não pôde ir, mas está sempre dando uma força. Conseguimos fazer fogueira debaixo de chuva para o rango, marcamos e cavamos os buracos para a fundação e neles colocamos os esteios. A casa-base do Caracolteua começa a tomar forma... Aprendemos a trabalhar com a estirpe do açaí. Açaí reciclado que as pessoas cortam e jogam por toda a ilha será provavelmente a base do trançado das paredes de barro. Para conseguir o barro, provavelmente cavaremos um poço."
SAIBA COMO FAZER DOAÇÕES OU PARTICIPAR DOS AJURIS DE MAIO/JUNHO E JULHO
SEMANA ZAPATISTA EM SÃO PAULO DE 4 A 8 DE MAIO ORGANIZA SOLIDARIEDADE AO CARACOL
Conexões: Informativo do Caracol número 1 | Avaliação amazonense do primeiro ajuri | Avaliação de um blogueiro sobre o primeiro ajuri | Wiki cedida à Flor da Palavra | Nova wiki cedida à Flor da Palavra
Editoriais anteriores do Caracol: Voluntárias alugam "casa base" no Outeiro para o ajuri do Caracol | Feliz 2009: participe do ajuri do caracol de Outeiro
Outros eventos da rede Flor da Palavra: Flor da Digna Raiva (Cidade do México 2008) | Flor do direito à moradia (Curitiba 2008) | Flor das mulheres indígenas (Tefé 2008) | Flor em assentamento do MST (Maringá 2008) | Pré-Flor da Palavra Curitiba e Floripa (2008) | Flor da Vila Pescoço (Tefé 2008) | Flor Casa das Pombas (Brasília 2007) | Flor Indígena (Tefé 2007) | Flor Punk (Brasília 2006) | Flor Anti-Calderón (Marília 2006) | Flor dos Movimentos Rurais (Tefé 2006) | Flor Sampa (2006) | Flor Rizoma de Rádios (Campinas 2006)
Aos que quiserem chegar junto para participar da experiência da (bio)construção, há uma casa próxima ao terreno alugada pelos caracólicos onde novos voluntários podem se alojar. Basta trazer suas redes ou barracas para a casinha da rua São Miguel 160, bairro da Brasília, ilha de Caratateua, em frente ao muro da Sotave.
O Caracolteua precisa, ainda, de colaboração para a compra de materiais (ou doações de materiais como palha para telhado, bons refugos de madeira e cerâmica, etc) ainda em maio, via doações pessoais ou realização de eventos de solidariedade. Os depósitos podem ser feitos na conta de Zacarias (Banco do Brasil, agência 1551-2, conta poupança 10880-4, variação 1). Para haver transparência, é importante que se informe o valor das doações feitas na lista Flor da Palavra (palavra@lists.riseup.net). Doações em espécie também são bem vindas, e temos já uma lista das prioridades mais urgentes:
- Tesoura grande - Chaves de fenda, estrela, alicate, etc... - Ralador de cozinha (tentamos fazer um q nao deu muito certo...) - Liquidificador - Peças de bicicleta - Rastelo ou ancinho - Material de escritorio - Algum clown pra trazer pancake em julho? - Material para instalações elétricas (bocais, interruptores, fios, etc....) - Assinatura de jornais e revistas (só temos acesso ao 'O Liberal", gratuito aki) - Ferramentas de jardinagem - Plainador - Mudas de ervas medicinais, sementes - Livros para a biblioteca
O endereço para correspondência e doações em espécie é Rua Marechal Deodoro da Fonseca, n. 610. Bairro Brasilia, Ilha de Caratateua, Distrito de Outeiro, Belem-PA. CEP: 66845-000.
Em julho, pessoas desterritorializadas e de diversas localidades prevêem um mês de encontros caracólicos para a realização de oficinas (permacultura, mídia livre, naturologia), debates (autonomia, lutas anti-sistêmicas, auto-gestão, democracia direta), jornadas de estudo e de prática (zapatismo, lutas populares amazônicas). Toda a programação está em aberto e todos estão convidados a construir e colaborar junto com a da rede Flor da Palavra e com a comunidade de Caratateua (para entrar na lista mande e-mail em branco para palavra-subscribe@lists.riseup.net).
As imagens publicadas neste editorial são do Encontro da Amizade, realizado na ilha em 31/1/2009 pela rede Flor da Palavra e movimentos de Caratateua, marcando o nascimento do Caracolteua.
Copiado sem autorização do CMI Brasil