24 de fev. de 2009

A menina suicida ou de coisas que eu desconheço

Eu vi uma menina suicida.
Ela se aproximou de mim - estávamos numa piscina - muito timidamente, mas de forma evidente.
Começou a conversar, sem que eu lhe dirigisse a palavra, e contou coisas particulares da sua vida que eu não havia perguntado. Disse que o pai havia abandonado a casa e que tinha apenas dez anos, mas as pessoas pensavam que ela tinha mais, por que tinha os seios grandes.
Havia uma angústia e uma solidão imensas naquele relato estranho.
Os adultos fazem coisa estranhas com as crianças.

Eu penso na renúncia perfeita.
O que é isso? Não é apenas renunciar sua individualidade para acolher o outro ( no caso, a filha abandonada), mas renunciar a individualidade sem jamais reclamar, ou seja, renunciar por Amor. Isso é a renúncia perfeita. A questão é que sempre esperamos uma recompensa futura. Nosso velho gene animal está prenhe de egoísmo. Vencê-lo, como ao muro da vergonha, demanda muitos séculos.
A menina suicida levará para toda a vida essa dor; e o que fará com ela, para o bem ou para o mal, não se pode nunca prever.