7 de mar. de 2009

Eco, eco

Eu vi um louco na rua Grande. Ele era sujo e maltrapilho. Atendia um celular de brinquedo e orgulhava-se que o vissem telefonar. 
Achei a imagem muito peculiar dos tempos modernos: um sujeito destruído e a tecnologia do invisível.
Chamo de tecnologia do invisível a esse monte de parafernália que utiliza alguma forma de comunicação sem ligação física. O celular é um exemplo. A voz é codificada num aparelho e transmitida por ondas através do ar até um outro.
Só que ninguém se maravilha que o invisível seja material.
Eu acho incrível que ondas eletromagnéticas possam (existir?) transmitir a voz e a imagem de coisas reais. Talvez eu seja tão filósofo quanto as crianças que se encantam com tudo. 
Mas o louco da rua Grande lembrou-me a mim mesmo, assim redundante, conversando comigo mesmo, ouvindo meu próprio eco.
Lembrou  que eu também sou louco, que articulo palavras, mas estou sozinho.
E que sozinho não é um bom lugar.
Não é digno do Pai.
O louco, meu irmão, precisa que o vejam falar ao celular; precisa que o entendam são, precisa se completar no amor do outro.
Eu não reclamo nem mesmo a companhia da vaidade - essa doença tão saudável... 


Escrevo para o nada, como um mendigo de luxo.