18 de jun. de 2009

Maria Valéria Rezende

Inútil espantalho
pardais pousam-lhe nos braços
como nos galhos
 

mar de capim verde
a ema é um periscópio
vigiando a tarde



tiro no silêncio
um farfalhar de asas
três ovinhos órfãos


oco de pau seco
abrigo para a ninhada
do pássaro-preto


árvore morta
aponta no céu
o pássaro vivo


atrás da formiga
corre lá e cá e cisca
uma lavandisca


canta o concriz
nem alegre nem triste
apenas canto


a tarde inteira
casal de maracanãs
amor na figueira


bem-te-vi fez ninho
entre as pitangas maduras
colho-as de mansinho


canta o curió
solta a voz para o horizonte
esperando o sol


toc, toc, toc, toc, toc,
ninguém bate à minha porta
pica-pau no tronco



no lombo da vaca
pequena garça branca
pasta carrapatos


mão de menino
sobe uma pedra nos ares
cai passarinho




Descobri esta moça e adorei.