(Mateus, capítulo 18º, versículos 23 a 35)
Há muito tempo e muito longe daqui, havia um rei que governava um grande e rico país.
Esse rei tinha muitos ministros que se consideravam seus servos, tão grande era o poder de seu grande chefe.
Cada ministro exercia uma tarefa e uma função determinada no governo daquele país.
Um dia, o rei chamou os seus servidores (que eram os tesoureiros e oficiais de sua corte) para fazer contas com ele. Todos teriam que prestar contas ao monarca. Alguns haviam feito empréstimos e era chegada a hora de pagar suas dívidas ao rei.
Chegou, primeiramente, um importante servidor, que era uma espécie de tesoureiro do reino. Feito o balanço, foi verificado que ele devia ao rei a grande quantia de dez mil talentos. (O talento era uma moeda antiga que valia mais ou menos vinte mil cruzeiros). A dívida total do ministro era, pois, de DUZENTOS MILHÕES DE CRUZEIROS, que ele havia retirado do tesouro real para suas despesas extravagantes de homem pródigo.
Esse oficial gastara no jogo e no luxo essa quantia fabulosa e agora não tinha possibilidade de pagar sua dívida ao rei.
Naquele tempo, as leis dos países orientais ordenavam que fosse vendido, juntamente com sua esposa, seus filhos e seus bens, aquele que não pudesse pagar suas dívidas ou restituir seus roubos. Foi o que o rei fez, O seu ministro não tinha com que pagar o débito, O rei, então, ordenou que ele, sua esposa e seus filhos fossem vendidos para pagamento da dívida.
Ouvindo o julgamento do rei, o grande servidor ajoelhou-se diante dele e suplicou-lhe, entre lágrimas e lamentações:
— Senhor, tem piedade, tem paciência comigo. Eu trabalharei e te pagarei tudo.
O soberano encheu-se de compaixão por aquele infeliz homem, que gastara loucamente seu dinheiro e agora estava reduzido à miséria. E perdoou-lhe a dívida.
O tesoureiro saiu do palácio real com o-coração aliviado pelo perdão de seu senhor. Era agora um pobre, estava reduzido à miséria, mas, estava em liberdade e sentia-se feliz: tinha sua mulher, seus filhos e sua casa. Haveria de trabalhar para viver, trabalharia muito — pensou...
Não muito longe do palácio, encontrou, no entanto, um pobre servidor do rei, a quem, há muito tempo, ele emprestara a pequena quantia de cem denários, que em nossa moeda correspondem a cerca de TREZENTOS CRUZEIROS.
O tesoureiro do rei estava na miséria... E ali estava, a poucos passos dele, alguém que lhe devia algum dinheiro...
Esquecendo-se do perdão do bondoso rei, que tivera compaixão dele, o tesoureiro avançou para o pobre homem e, segurando-o pela garganta, sem a menor piedade, foi-lhe gritando:
— Paga o que me deves... Paga-me os cem denários, já, sem demora...
E, cruelmente, sufocava o pobre servidor do palácio. Este conseguiu ajoelhar-se diante do tesoureiro e, chorando, sem forças, suplicou:
— Senhor, tem piedade, tem paciência comigo. Eu trabalharei e te pagarei tudo.
Mas, o tesoureiro era um homem duro de coração e não atendeu ao pobre devedor. Esqueceu-se de que, momentos antes, ele estava na mesma situação, com uma dívida imensamente maior e fora perdoado pelo rei... Mandou prender o infeliz companheiro até que lhe pagasse a dívida.
Aconteceu, porém, uma coisa que o tesoureiro não esperava. Alguns oficiais da corte, que assistiram à cena do perdão do soberano, passavam pela rua justamente no momento em que o tesoureiro apertava a garganta do seu pobre devedor e este lhe suplicava inutilmente misericórdia.
Os oficiais ficaram profundamente tristes quando viram o pobre devedor ser levado para a prisão, por uma dívida tão pequena, por ordem de quem havia sido perdoado por uma dívida tão grande. E, imediatamente, voltaram à presença de Sua Majestade para contar-lhe tudo que viram e ouviram.
Então, o rei mandou que seus soldados fossem buscar o tesoureiro. Quando este chegou diante do trono, muito amedrontado e acovardado, o rei lhe disse:
— Servo malvado, eu perdoei a tua dívida porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, ter compaixão de teu devedor como eu tive de ti? Mas, como és maldoso e não tiveste misericórdia de teu próximo, não mereces a liberdade. Irás para a prisão até pagares tudo que me deves.
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Termina Jesus a Parábola dizendo, numa advertência que não se deve esquecer: “Assim vos fará também meu Pai Celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas
Entendeu, querida criança, a Parábola do Credor Incompassivo?
O rei representa Deus, que é o Rei do Universo. Ele nos tem perdoado uma dívida imensa. Nossa presença na Terra (nossa atual encarnação) significa um aspecto do imenso perdão de Deus para conosco. Imensa era nossa dívida para com Deus (tal como a do tesoureiro), dívida representada pelas nossas muitas culpas e pecados através de muitas encarnações. Deus nos oferece, agora, o Seu Perdão através de nova oportunidade, nesta atual existência, para nos corrigirmos e buscarmos a perfeição de nossos espíritos. Não se esqueça disso, filhinho.
Lembremo-nos sempre do Perdão Divino, sobretudo quando formos ofendidos por alguém. Por maior que seja a ofensa que alguém nos faça (calúnia, perseguição, intriga, brutalidade, etc.), lembremo-nos de que muito mais temos ofendido a Lei Divina com as nossas rebeldias, nesta vida atual e em nossas existências passadas.
Por maior que seja a maldade que alguém nos faça, saibamos perdoar-lhe essa dívida moral, recordando a parábola. Pensemos assim: qualquer ofensa, por maior que seja, não passa de cem denários (trezentos cruzeiros), se ela pudesse ser calculada em dinheiro. E pensemos também, filhinho, usando a mesma comparação, que nossa dívida para com Deus é infinitamente maior: é de dez mil talentos (DUZENTOS MILHÕES DE CRUZEIROS)!...
Saibamos perdoar sempre, qualquer que seja a ofensa, que é sempre pequena comparada com as ofensas que temos feito à Divina Majestade de nosso Rei do Céu.
Perdoemos sempre, querida criança, nunca esquecendo as misericórdias de Deus. Ele sempre semeou bênçãos auxiliadoras sobre nossos espíritos culpados, oferecendo-nos novas oportunidades de reparação e progresso. Imitemos nosso Pai do Céu e não o tesoureiro da Parábola. Entendeu tudo, filhinho?