19 de nov. de 2009

A Jangada





 

Há esta grande extensão de água... mas não há barco nem ponte. Então irei coletar grama, galhos, ramos e folhas, e juntá-los como uma jangada. Desta forma eu irei cruzar com segurança para a outra margem. O Dharma é similar a uma jangada, que existe com o propósito de cruzar o rio, e não para se agarrar/ater a ela.
(Buda; Majjhima Nikaya XXII)
Assim como o Dharma (que, no caso, se refere ao conjunto de ensinamentos e tradições do budismo para alcançar a iluminação) é apenas a ferramenta (jangada) feita com elementos banais, que muitos tomariam como lixo, muito do próprio ensinamento (no seu caráter individual, como as parábolas) pode ser encarado pela mesma ótica: elementos banais, costumeiros, que são transformados pelo autor em um ensinamento transcendente. Muitos Mestres (reais ou não) nos presentearam com belas parábolas, tais como Krishna, Osho, Mirdad, "O profeta" de Gibran e Zaratustra. Mas, na minha opinião, o maior alquimista de todos, aquele que melhor pegou os elementos circundantes (cenários, objetos, gestos, palavras e respostas) e os transformou em ouro, foi Jesus. Seus ensinamentos são de uma simplicidade que cativa os mais simples, e profundidade que encanta os estudiosos. Sua "jangada" pode parecer tosca à primeira vista. Fraca e balouçante ao sabor da correnteza, sua construção é tão pouco ortodoxa que muitos não aceitam embarcar nela, embora queiram atravessar o rio. Mas sua trama, se analisada de perto, é tão delicada e ao mesmo tempo tão forte (como a teia de aranha) que esta jangada permanece ativa até os dias atuais.