Em artigo na revista Piauí, Francisco de Oliveira, sociólogo e fundador do PT, avalia os governos de Lula e constata que vivemos ainda a era FHC.
Ora, o eminente sociólogo deveria reconhecer que a capitulação do PT representa apenas o fracasso da utopia de sua geração ( que é a minha também) e a manutenção hegemonia do pensamento burguês que se fundamenta em dólar e em dívida.
Eu, que gosto de FHC
(& gosto de Lula & gosto de Sarney & gosto de meninos &meninas - por motivos diferentes, é claro!),
reconheço que ele não tinha poder político para bancar as mudanças que sempre desejou:
(& gosto de Lula & gosto de Sarney & gosto de meninos &meninas - por motivos diferentes, é claro!),
reconheço que ele não tinha poder político para bancar as mudanças que sempre desejou:
Os resultados são o oposto dos que o mandato avalizava. O eterno argumento dos progressistas-conservadores - caso, entre outros, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso - é que faltaria, às reformas e ao reformista-mandatário, o apoio parlamentar. Sem sustentação no Congresso, o país ficaria ingovernável. Daí a necessidade de uma aliança ampla. Ou de uma coalizão acima e à margem de definições ideológicas. Ou, mais simplesmente, de um pragmatismo irrestrito.
O certo é que FHC queria fundar a burguesia nacional, a quem serve, ainda hoje, (“fundar” pode ser hiperbólico, certo?) e, por isso, privatizou tudo:
Houve então o interregno de Fernando Collor, que tinha voto, mas não tinha voz, e de Itamar Franco, que não tinha nem voto nem voz. E então chegou o progresso mesmo, em pessoa, adornado com os títulos e as pompas da Universidade de São Paulo. Fernando Henrique Cardoso realizou o que nem a Dama de Ferro tinha ousado: privatizou praticamente toda a extensão das empresas estatais, numa transferência de renda, de riqueza e de patrimônio que talvez somente tenha sido superada pelo regime russo depois da queda de Mikhail Gorbachev.
Sim, transferência de renda! Isso é grave. Acho que FHC ampliou o hiato, (que Lula, ingenuamente, pensa que o está diminuindo...) entre ricos e pobres.
Medidas indiretas sugerem, e na verdade comprovam, o crescimento da desigualdade: o simples dado do pagamento do serviço da dívida interna, em torno de 200 bilhões de reais por ano, contra os modestíssimos 10 a 15 bilhões do Bolsa Família, não necessita de muita especulação teórica para a conclusão e que a desigualdade vem aumentando. Marcio Pochmann, presidente do Ipea, que continua a ser um economista rigoroso, calculou que uns 10 a 15 mil contribuintes recebem a maior parte dos pagamentos do serviço da dívida. Outro dado indireto, pela insuspeita - por outro viés - revista Forbes - já linha pelo menos dez brasileiros entre os homens e mulheres mais ricos do mundo.
Vê?
O Lula, orgulhoso pelo “fim” da Dívida Externa, exultante com a “incalculável” transferência de renda de seu governo; o Lula - ingênuo metalúrgico nordestino e reencarnação de D. João, continua a enriquecer os ricos em proporção muito maior do que despobretiza os pobres...
Ora, o governo Lula, na senda aberta por Collor e alargada por Fernando Henrique, só faz aumentar a autonomia do capital, retirando às classes trabalhadoras e à política qualquer possibilidade de diminuir a desigualdade social e aumentar a participação democrática. Se fhc destruiu os músculos do Estado para implementar o projeto privatista, Lula destrói os músculos da sociedade, que já não se opõe às medidas de desregulamentação
As classes sociais desapareceram: o operariado formal é encurralado e retrocede, em números absolutos, em velocidade espantosa, enquanto seus irmãos informais crescem do outro lado também espantosamente. Em sua tese de doutorado, Edson Miagusko flagrou, talvez sem se dar conta, a tragédia: de um lado da simbólica Via Anchieta, no terreno desocupado onde antes havia uma fábrica de caminhões da Volks, há agora um acampamento de sem-teto, cuja maioria é de ex-trabalhadores da Volks. Do outro lado da famosa via, sem nenhuma simultaneidade arquitetada - aliás, os dois grupos se ignoraram completamente -, uma assembleia de trabalhadores ainda empregados da Volks tentava deter a demissão de mais 3 mil companheiros. Eis o retrato da classe: em regressão para a pobreza. De são Marx para são Francisco.
As classes dominantes, se de burguesia ainda se pode falar, transformaram-se em gangues no sentido preciso do termo: as páginas policiais dos jornais são preenchidas todos os dias com notícias de investigações, depoimentos e prisões (logo relaxadas quando chegam ao Supremo Tribunal Federal) de banqueiros, empreiteiros, financistas e dos executivos que lhes servem, e de policiais a eles associados.
Sim, o velho e quase sempre lúcido Francisco de Oliveira acerta em cheio ao temer que a luta política se transforme em uma luta de gangues: "a novidade do capitalismo globalitário é que ele se tornou um campo aberto de bandidagem".
E na luta entre a gangue do pré-sal contra a gangue da dívida pública não sobra nada do sonho do professor Chico de Oliveira & do sonho do professor Fernando Henrique & do sonho do nordestino Lula & do sonho de nossa geração...
E na luta entre a gangue do pré-sal contra a gangue da dívida pública não sobra nada do sonho do professor Chico de Oliveira & do sonho do professor Fernando Henrique & do sonho do nordestino Lula & do sonho de nossa geração...